26/08/2015

Panaceia da loucura

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Panaceia da loucura

Uma reflexão a cerca dos caminhos possíveis para o liberalismo clássico no Brasil



Ronald Reagan uma vez disse que seu lema era “seguir em frente, mas sem deixar nenhum homem para trás”.

Avançar, progredir, é fundamental para qualquer sociedade que busca a prosperidade. Mas este avanço não pode ser à custa da liberdade e da dignidade humana. São princípios como estes que devem servir como base fundadora de uma visão liberal clássica de país. Incluindo o Brasil.

Já disse em diversas ocasiões que não tenho um projeto individual de Brasil. Não tenho, pois acredito que um projeto nacional precisa ser construído pelo povo, no diálogo contínuo. Eu não acredito em personalismos ou messianismos, mas na consciência livre de cada indivíduo que, em comunhão, constrói os fundamentos de uma nação forte. Contudo, eu tenho total consciência de qual caminho eu NÃO quero ver o Brasil seguir. E é visando combater o indesejável que apresento, neste texto, o caminho desejável.

Como todo país, o Brasil tem seus problemas, suas contradições e complexidades. Logo, para que o Brasil dê certo, precisamos compreender nossa realidade. Ignoremos por um momento o filtro ideológico e vejamos onde estamos no curso da história. O que temos? O que somos? E o que nosso povo quer? Através disso poderemos dizer o que é detestável, o que é desejável e o que é louvável. As bandeiras tradicionais do liberalismo clássico não serão aplicadas na canetada. O governo não irá diminuir de tamanho da noite para o dia. O mercado não será liberado pela vontade de meia dúzia. As regiões do Brasil não ficarão mais livres e democratizadas sem uma política antimonopólios cartelizados e anticoronealismo. Para resolver um problema, primeiro precisamos reconhecer que temos um.

Eu acredito no livre mercado, na troca entre indivíduos em busca de avanços pessoais, acredito na humanidade neutra, nem boa e nem má, mas responsável pelos incentivos positivos e negativos que a sociedade nutre. Acredito num governo menor e eficiente, num pacto social cujo interesse seja a prosperidade geral da nação e não os interesses particulares de uns e outros. Acredito na separação entre aquilo que é privado e aquilo que é público. Acredito que a função do poder público é promover a liberdade do indivíduo, lutando contra a espoliação e contra o abandono dos direitos fundamentais. Acredito na permanência das instituições em detrimento da de homens. Acredito na educação, no diálogo e na ampla liberdade de organização visando à justa competição. Acredito num Estado cujo único interesse é a promoção do respeito à igualdade, liberdade e dignidade individual em cada canto do território nacional.

Isso significa que o governo não deve participar de negócios escusos, travestidos de propina, na função de sustentar grandes empresários e banqueiros, desfavorecendo assim as soluções de um livre mercado pleno. Significa que o governo precisa dialogar com a iniciativa privada, mas sabendo o seu lugar! O interesse público é este. Que o Estado não usurpe sua função protegendo elites que em nada estão preocupadas com a liberdade individual ou livre concorrência nacional.

O Brasil é o país do patrimonialismo, do coronelismo e do Estado débil. O governo, por não cumprir com sua tarefa fundamental, torna-se fraco, submisso aos interesses privados de uns poucos poderosos. Este tipo de governo é detestável. Pois impede que as necessidades fundamentais do povo sejam atendidas. Impede que a livre concorrência flua, promovendo melhores alternativas para a população. Que cada brasileiro possa criar sua empresa em um único dia, operando-a no dia seguinte. Ou que ele feche sua empresa em um mesmo dia se for preciso, podendo trabalhar em outras funções no dia seguinte. Que o governo não beneficie uma região nacional, mas atenda a todos os cidadãos brasileiros de forma igualitária e justa. E quando digo isso, é claramente para que o governo não se preocupe com a indústria num estado ou o comércio em outro, mas DEIXE todos os estados livres para competir entre si.

O bom governo jamais é omisso em suas funções clássicas. Para atender o VERDADEIRO interesse público, o governo precisa ser forte, presente e muito eficiente. Pois um governo omisso beneficia uma pequena elite que não tem nenhum interesse público, mas particular. Que justiça seria essa onde os interesses de uns poucos particulares tem maior preponderância em desfavor de outros tantos particulares?

Se o homem é neutro, nem bom e nem mau, então é função do Estado promover o interesse do homem ordinário, comum. O interesse universal do homem é por liberdade de ação e respeito à vida. Um Estado que trata destas coisas é passível de desenvolver um projeto nacional. Pois como disse no início, um projeto nacional só pode surgir através do livre diálogo social. E para que este livre diálogo aconteça, o governo deve respeitar a liberdade de cada estado federado, de cada município, de cada bairro e de cada cidadão. E este respeito significa NÃO privilegiar elites ou estados ou instituições. O Brasil precisa ter um governo capaz de proteger o cidadão brasileiro. Esta é meu modelo desejável de política interna. Depois que arrumar o Brasil internamente, ai sim poderemos pensar externamente. Pois somente um país que se conhece pode oferecer algo para o mundo.

Precisamos avançar, mas sem deixar ninguém para trás. Isso significa que o liberalismo precisa avançar, mas sem esquecer nossas dicotomias, nossas mazelas históricas e nossa gente particular. Temos um país grande. E por ser grande, a liberdade é condição ESSENCIAL para a preservação da dignidade humana e para o avanço nacional.

Grato pela leitura,

Sasha Lamounier

Porto - Portugal
26 de Agosto de 2015

 

22/08/2015

Brasil: Terra do Nunca


Brasil: Terra do Nunca

Por

Sasha Lamounier

O Brasil tem um problema que quase unanimamente ignoramos. E não por acaso. E este problema são "os outros". Nós nunca estamos errados. Nós sempre estamos do lado certo. Os outros é que não são pacíficos. Os outros é que não tem racionalidade. Os outros não sabem argumentar. Os outros que odeiam. Os outros que brigam. Os outros... os outros... As outras nações são melhores que o Brasil. Os outros países tem problemas mais graves (o nosso problema é só Brasília).

Em suma, somos o país "dos outros". Nunca somos o país de nós mesmos. O problema real, portanto, é este. Os outros não são problema. NÓS somos o problema. A esquerda vive promovendo um projeto de futuro que não existe. E nós (direita) desejamos voltar a um passado que não vivemos. Somos um país de mentiras. Um país sem identidade construtiva, mas destrutiva. Nos unimos para odiar. Não vou a um jogo para ver meu time ganhar, mas para ver o outro time perder para o meu.

Como diria François de la Rochefoucault: "Se nós não tivéssemos defeitos, não teríamos tanto prazer em notá-los nos outros".

Sergio Buarque de Hollanda disse: o povo brasileiro é um povo cordial. E ele está certo. Cordial vem do latim "cordialis", que significa coração. Nós somos passionais. Não vibramos com um pensamento porque acreditamos nele, mas porque odiamos o seu contrário. Odiar é paixão também. E essa é a principal característica do brasileiro.

Estabeleçamos, portanto, um pacto de consciência nacional:

1º. Nós não somos o país do futuro.
2º. Nosso passado não é mais glorioso do que o nosso presente.
3º. O paulista não é melhor do que o nordestino.
4º. O carioca não é mais violento do que o paulista.
5º. Nós tivemos e temos tido continuadas guerras civis pelo Brasil, desde a Guerra da Cisplatina até as Favelas.
6º. Nós nos odiamos mutuamente.
7º. Amamos a fantasia que nos parece mais amena.
8º. Somos hipócritas e cínicos.
9º. Não sabemos quem somos.
10º. Não aprendemos a construir, mas a rejeitar construções.

Quando compreendermos estes 10 pactos, entenderemos que não somos um país por construir. Somos um país em plena construção neste exato momento. Assim como foi há 20 anos atrás, há 50, há 100 e há 200, quando ainda éramos colônia de Portugal. O índio não era mais pacífico do que o português. O europeu não é mais inteligente do que o africano. E nós não somos melhores ou piores do que nenhum outro povo na história da humanidade. Não somos povo escolhido de nada. Somos o que somos. E está na hora de aprendermos a ser "isso".


23 de Agosto de 2015