29/01/2016

Como chegamos onde estamos


Como chegamos onde estamos e o que podemos esperar para o futuro

Por

Sasha Lamounier



Introdução


A situação da economia brasileira é uma das mais problemáticas atualmente. Em 2015, o país teve uma queda de 4,5% do produto interno bruto. É a maior queda do PIB brasileiro em toda sua história. Maior inclusive do que as duas vezes em que o país teve grandes quedas. Em 1981 e 1990, o produto interno bruto caiu 4,3%. [1] [2] [2.a]

Em janeiro de 2015, o Fundo Monetário Internacional (FMI) baixou a estimativa de crescimento do Brasil para aquele ano de 1,1% para 0,3%, em um cenário onde Joaquim Levy era anunciado Ministro da Fazenda e o impeachment ainda não era pauta política. Exatamente um ano depois, em janeiro de 2016 o FMI baixou a expectativa do PIB brasileiro no presente ano de menos 1% para menos 3,5%. E para 2017, o Fundo reviu sua previsão de crescimento de 2,3% para estagnação em 0%.

A previsão do Fundo foi mais otimista do que a realidade ano passado. Em 2015, o PIB brasileiro caiu 4,5% (e não apenas 0,3%). O que significa que a margem de erro do FMI chegou a 4% negativos. Muita coisa deve ser considerada para fazer uma previsão realista em 2016, mas considerando a mesma margem de erro de 2015, podemos imaginar que o Brasil terá uma queda de 7,5% (3,5% do FMI + 4% de margem de erro) do PIB neste ano. E em 2017, possivelmente uma queda de 4%.

O que causou este “erro” de tendência negativa do Fundo em 2015? Certamente, eventos exógenos que o FMI não poderia imaginar. Eventos gerais da economia eram observáveis, mas como cada governo e cada país lida com estes problemas, depende muito de o quanto os governos são confiáveis. Podemos classificar três eventos-chave para entender a crise brasileira.

1.      Fim do ciclo das commodities (crise internacional);
2.      Nova Matriz Econômica;
3.      Crise política;

Cada um dos três elementos é responsável isolado e composto da crise brasileira. Para compreender a totalidade destes eventos, torna-se imperativo passarmos um por um para compreender como chegamos onde estamos, começando pelo fim do ciclo das commodities, para depois ensaiarmos uma conclusão deste cenário.


Fim do Ciclo das Commodities;

Primeiro, um ciclo de commodities é o período de tempo em que produtos de matéria prima são altamente consumidos pela demanda internacional até diminuir sua atração de mercado. Trata-se, portanto, de um calendário macroeconômico bastante simples. Todas as nações fazem parte de uma cadeia global de oferta e demanda. Isso significa que a balança comercial dos países depende do quanto o país X produz para consumo interno e externo e a diferença entre importar e exportar estes produtos. Em 2015, poucas coisas foram positivas além da balança comercial. Isso significa que o Brasil exportou bastante e que os exportadores lucraram com a alta do dólar (se exportam, ganham em dólar e se ganham em dólar, o dinheiro é valorizado dentro do Brasil).

Commodity são produtos de origem primária, como minério, trigo, soja, petróleo etc. Um ciclo destes produtos significa basicamente um período de tempo de depreciação da oferta e da demanda. Em economia, sempre que há uma determinada oferta, surge uma determinada demanda. A capacidade dos produtores de servirem a oferta é o que vai garantir o sucesso ou insucesso do produtor, assim como sucesso ou insucesso do comprador que demanda o produto.


Entre países, esta relação é a mesma. O Brasil atualmente possui uma balança comercial externa baseada especificamente em commodities. Veja o quadro abaixo (clique na imagem para visualizar melhor) [3]:



Repare que somente o minério de ferro representa 13% de todas as exportações do Brasil. A Soja, 9,3% e o açúcar bruto, 5%. O petróleo representa 5,3%. Portanto, nossa matriz exportadora é fundamentalmente puxada pelo mercado de commodities. Juntas, as citadas representam 32,6% de toda a balança.

O preço do minério de ferro alterou-se vertiginosamente entre 2012 e 2015. Como demonstra este gráfico, o preço do minério de ferro em janeiro de 2012 era de mais ou menos 130 dólares. Em janeiro deste ano (2016) está em 40 dólares. É uma queda de 150%! Isso, por si só, tem um impacto significativo na economia brasileira. A Vale, por exemplo, produz a custo de 20 dólares em média. Com o preço em 40 e caindo cada vez mais, a companhia terá de cortar mais gastos (o que pode também significar desemprego), e terá de apertar o cinto para lucrar. Essa situação é complicada em si, apesar da empresa fazer marabalismo para continuar operando bem. (clique na imagem para visualizar melhor) [4]




O preço do petróleo teve também uma queda vertiginosa. Em 2012, o barril custava em torno de 100 dólares. Hoje, janeiro de 2016, está cotado abaixo dos 40 dólares e caindo. Para a Petrobrás, que produz o barril a custo aproximado de 25 dólares, o encargo está cada vez maior. Isso afeta os planos para exploração do pré-sal, que representa uma reserva valiosa para o Brasil em termos tanto de autonomia energética como de exportação. O custo para se extrair o pré-sal aumenta se a empresa não tiver capacidade de investimento e de retorno. Isso significa que os royalties do pré-sal também são afetados, o que impacta no orçamento de Estados e municípios brasileiros. A seguir, um gráfico mostrando a variação do preço do barril do petróleo entre 2012 e janeiro de 2016. (clique na imagem para visualizar melhor) [5]




Estes dois aspectos demonstram que tanto o minério de ferro quanto o combustível fóssil estão em declínio nos mercados globais. O que gerou este declínio? O que gerou o fim do ciclo destas commodities? Pode-se colocar a culpa em “n” fatores, mas alguns são canônicos: I. O desenvolvimento do óleo de xisto nos EUA; II. A crise chinesa e; III. A queda da demanda internacional (Europa e Ásia especialmente).

O óleo de xisto é um combustível fóssil retirado da extração do xisto betuminoso. Além dele, há também o gás de xisto. Os Estados Unidos tem uma grande reserva natural de xisto, e investem na tecnologia de fraturação hidráulica – o chamado fracking – desde os anos 1980. Mas foi a partir dos anos 2000 que as tecnologias associadas à indústria começaram a se desenvolver. Ano após ano as tecnologias se desenvolveram rapidamente e os EUA aproveitou sua vocação econômica para aumentar sua independência perante a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e o Oriente Médio (isso também explica muita coisa a cerca da política externa americana). Para se ter ideia, o gás de xisto representa hoje 44% da produção total de gás natural nos Estados Unidos. Enquanto a tecnologia tem impulsionado a produção de petróleo de xisto em 56% do total do petróleo americano. Estes avanços fez dos EUA o maior produtor mundial de petróleo. Ou seja, os EUA deixaram de ser o maior importador de petróleo do mundo para se tornar o maior exportador. [6]

Por conta disso, atualmente o maior importador de petróleo é a China. Além de ser um grande importador de minério de ferro e soja, dois dos principais produtos brasileiros. Mas a China tem um problema: ela não foi capaz de criar um intenso mercado interno, que pudesse tapar os buracos do crescimento exportador abrigado pelo país na última década. Ao contrário dos EUA, que alcançou sua autonomia energética e aqueceu o mercado interno (em especial a classe média), superando assim os problemas enfrentados pela crise de crédito em 2008, a China é um país de economia essencialmente exportadora, com uma sociedade pouco incluída no mercado interno. Com a crise de 2008, a Europa enfrentou uma grande desaceleração do consumo, impactada especialmente pelas crises grega, italiana, espanhola e portuguesa. Do mesmo modo, os EUA diminuiu seu volume de importações. Isso afetou diretamente a economia chinesa, que sem seus maiores consumidores, precisou mudar os planos para finalmente criar um forte mercado interno. Mas o tiro tem saído pela culatra. [7]

A sociedade chinesa não é feita de classe média, mas essencialmente de classes ricas (uma minoria) e uma imensa classe pobre (trabalhadores, agricultores, comerciantes locais, profissionais autônomos). A disparidade econômica entre a China urbana e a rural é a maior do planeta. Nas recentes décadas, muitos moradores pobres reuniram-se em cidades do leste do país, o que atraiu um boom de construção (o que gerou as cidades fantasma). No início de 2012 os moradores de cidade pareciam superar a população rural pela primeira vez, de acordo com dados oficiais. Mas isso não significa crescimento de um mercado consumidor interno. Os emigrantes chineses continuam pobres para os padrões internacionais e, com um país desesperado por desenvolver um mercado interno, sem uma política de expansão ao crédito (privado e público) e ao próprio empreendedorismo, apenas uma coisa pode acontecer: quebra. [14]

Hoje a economia chinesa não é sustentável. O mercado consumidor externo arrefeceu e tentar alterar, tentar reverter à ordem de sua estrutura econômica para criar um mercado interno, é humanamente impossível no curto prazo. Será necessário pelo menos uma década de investimentos, corte de gastos e carestia para a sociedade chinesa se adequar a um modelo distributivo e consumista internamente sustentável.

Recentemente, a China tem dado demonstrações desta crise iminente. Um país que crescia todo ano a taxas de 14%, em média, hoje cresce a 6,5%. Em outros termos, a crise de 2008 gerou, na China, um corte pela metade de seu PIB. Com um mercado interno frágil, naturalmente as importações diminuem. E com as importações diminuindo, todos os parceiros comerciais do país irão sofrer junto. Entre eles o Brasil (grande exportador para a China).

Portanto, em resumo, o primeiro elemento da crise brasileira é a crise internacional e o fim do ciclo das commodities, puxado pelo arrefecimento da China, pela recuperação interna dos EUA e pela queda de demanda agregada global dos produtos commodities.


Nova Matriz Econômica

O segundo fator, a chamada “nova matriz econômica”, é o que podemos chamar de política econômica adotada pelo governo brasileiro após a crise de 2008 (final governo Lula e governo Dilma). Abandonando o tripé macroeconômico estabelecido ainda nos governos de Fernando Henrique Cardoso (metas de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante) e assumindo uma nova matriz econômica, baseada basicamente no inverso do tripé anteriormente estabelecido. Ou seja: expansão fiscal (estímulos), crédito abundante a juros subsidiados e taxa de câmbio controlado. Foi substituída a responsabilidade fiscal pela expansão fiscal. As metas de inflação deram lugar a uma expansão do crédito público e a mudança da taxa de câmbio flutuante (determinada pelo mercado), para intervenções do Banco Central no mercado cambial em busca de gerar uma taxa de câmbio “competitiva”. [8]

Os efeitos desta mudança são sentidos de forma geral pela economia. Mas antes, vamos entender o que levou, economicamente, o governo a adotar estas práticas. Primeiro, a crise de 2008 foi o que o governo chamou de “crise do crédito privado”, dado que a bolha imobiliária americana estourou devido a créditos fornecidos por bancos privados que, inclusive, faliram ou se fundiram para se salvar. Ao mesmo tempo, um governo que vinha tendo sucessos com o ciclo das commodities e com a expansão do mercado consumidor, viu após a crise a chance de aprofundar este crescimento, assumindo uma política de expansão ao crédito. Isso aumentou o consumo, manteve acesos os programas sociais do governo (entre eles o Minha Casa Minha Vida) e também aqueceu a produção, apesar do mundo estar passando por uma crise. Em alta, Lula consegue eleger sua sucessora em 2010. Até 2013, o consumo não se alterou profundamente e a expectativa popular era de avanço deste desempenho. Contudo, nada é eterno.

Os bancos privados, quando emprestam dinheiro as pessoas, são mais cuidadosos devido ao elevado risco de inadimplência e possível falência da instituição em caso de calote. O chamado “spread bancário” é, simplificadamente, a diferença de juros entre aquilo que o banco empresta e aquilo que o banco recebe de depósito. Si a diferença de juros entre o dinheiro emprestado e o dinheiro depositado no banco for elevado, trata-se de um banco saudável. Se for menor, o banco não terá condições de honrar compromissos com depositantes e isso poderá gerar a falência do banco. Já o banco público (no modelo da Nova Matriz) emite crédito sem se preocupar com o spread (empréstimos subsidiados com juros abaixo da SELIC), já que a ordem é política e não econômica. Por isso os bancos públicos, que através da nova matriz econômica são utilizados como fomentadores do crescimento, tem aumentado muito seu nível de crédito ao invés dos bancos privados, que diminuíram bastante o volume. Este gráfico a seguir mostra o volume de crédito fornecido por bancos privados e públicos ao longo da série histórica. Em azul, bancos privados e em vermelho, públicos: (clique na imagem para visualizar melhor) [9]




Repare que a partir de 2012-2013 os bancos privados diminuíram o volume de crédito fornecido, enquanto que os bancos públicos aumentaram. O motivo é simples: os bancos privados não tinham mais a segurança necessária para emitir créditos, devido ao alto risco de inadimplência. Foi aí que os bancos públicos assumiram a dianteira como grandes emprestadores. Mas isso não dura para sempre. Se o nível de inadimplência dos devedores aos bancos públicos for alto demais, os bancos começam a entrar seriamente no vermelho, visto que o seu spread bancário será inverso: irá ter mais dinheiro emprestado do que dinheiro de retorno. O calote é inevitável. Isso causa aumento do endividamento, paralisia do consumo, diminuição da produção e naturalmente recessão.

Se já temos um problema de demanda agregada internacional, agora temos outro problema: nossa matriz econômica não é sustentável. O governo irá gastar mais do que arrecada (menos produção, menos consumo, menos arrecadação), tentará a todo custo fazer marabalismos para manter os programas sociais fundamentais e pior, tentará se reeleger através de uma eleição discursivamente destoante da realidade. Na eleição de 2014, parte da sociedade brasileira já havia sentido os efeitos tanto da crise internacional como da crise interna, gerada pela nova matriz econômica. Foi esta parcela que enfurecidamente lutou contra a reeleição de Dilma Rousseff. Mas a outra parcela, ainda fiel à política de estímulo ao crédito, fiel a política governista de desenvolvimento e garantia dos programas sociais, manteve-se unida a presidente e conseguiram a reeleger por uma margem muito pequena.

De todo modo, a crise econômica já estava instalada e agora, depois de uma eleição radicalizada e bem dividida, surgiu o terceiro problema: uma crise política.


A Crise Política


Há de se considerar diversos fatores. Um deles foi uma crise de confiança de parte do eleitorado de Dilma que o seu segundo governo criou ao negar o programa eleitoral e colocar na Fazenda um ortodoxo economista (Levy), ideologicamente contrário a tudo o que a campanha no ano anterior defendia. Isso causou a interpretação de que o governo reconheceu indiretamente que a propaganda era enganosa e o país estava em crise. Por si só, este primeiro erro estratégico já deu motivos de sobra (e bem coerentes) para a oposição bater no governo com toda a força. Mas como se não bastasse, 2015 foi um ano de grandes dificuldades econômicas, com ajustes fiscais na pauta do dia, uma economia piorando a nível interno e externo e um agigantamento das tensões sociais, tanto nas ruas como no cenário político.

A Operação Lava Jato, que desde 2014 estava fazendo uma grande devassa nos crimes cometidos em torno da Petrobras (que hoje já chegam ao custo de 10 bilhões de reais só em propinas), acabou por revelar em 2015 uma onda de denúncias afetando todos os quadros da política brasileira. Muitos dos quais, presentes no Congresso Nacional. Diversos quadros de diferentes partidos foram citados por delatores e acabaram sendo investigados pela Polícia Federal, incluindo membros do partido de Dilma (PT – Partido dos Trabalhadores). Com a mídia anunciando as novidades da operação praticamente durante todo o ano, além das notícias negativas da economia brasileira e a mudança do quadro de expectativas da população, junto de uma classe política em alvoroço por conta da operação Lava Jato, uma crise política se instaurou. [10]

No meio desta crise política, tínhamos uma economia necessitando de ajustes, um eleitorado pró-Dilma sentindo-se traído por ter visto um Brasil inverso ao da propaganda eleitoral e uma crise ética e moral de grandes proporções em todos os cenários da política brasileira. Não tardou e o impeachment tornou-se bandeira popular, especialmente daqueles que já haviam votado em Aécio Neves (candidato da oposição) em 2014. O presidente da Câmara (Eduardo Cunha), um dos investigados na Lava Jato, recebeu diversos pedidos de impeachment da Presidente Dilma, arquivando vários enquanto era possível uma negociação dele com o governo. Até o momento em que o presidente da Câmara, pessoalmente, rompeu com o governo e iniciou uma velada campanha anti-Planalto. Passaram-se os meses, os dados da economia não melhoravam e a insatisfação só aumentava. O ministro da fazenda, Joaquim Levy, não conseguia aplicar seus ajustes mais que necessários para uma economia problemática, especialmente com um Congresso Nacional turbulento. [11]

O problema em geral já era complicado, Levy não iria conseguir mudar de cabeça para baixo a situação do Brasil. Para isso ele teria de resgatar o tripé econômico de FHC e revisar a política de estímulo. Mas sua função, na verdade, nunca foi essa. Foi apenas resgatar a confiança do mercado investidor para o Brasil não perder mais divisas além das que já estava perdendo. Acabou que a crise política implodiu o “projeto Levy”.

Dito e feito, em finais de 2015, um dos pedidos de impeachment foi aceito pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (provavelmente como represália por não ter recebido apoio do governo no conselho de ética, que iria julgar a cassação de seu mandato como presidente devido às denúncias da Lava Jato perpetradas contra ele).

Próximo ao novo ano, o então ministro Joaquim Levy sai do cargo, dando lugar ao reconhecido desenvolvimentista Nelson Barbosa. [12] [13]


Conclusão Possível




Esta cadeia de acontecimentos, desde a crise internacional, passando pela nova matriz econômica e chegando a crise política, tem gerado uma profunda retração da economia brasileira. A crise política aumenta o grau de incertezas a cerca da recuperação do Brasil, o que se somando a retração chinesa e a grande crise de inadimplência brasileira, pode gerar efeitos dos mais negativos possíveis no curto, médio e longo prazo.

A previsão de retração de 3,5% em 2016 por parte do FMI para o Brasil é um sopro de otimismo. Neste cenário, muito provavelmente o Brasil terá uma queda acentuada, podendo realisticamente chegar em 5% ou 6% de queda. Em 2017, pode-se imaginar uma queda em torno de 3% ou 4% do PIB (se não pior). Para a economia se recuperar e voltar a crescer, muita coisa tem de mudar.

Em minha opinião, primeiro, o país precisa criar um mercado consumidor interno forte e sustentável. Com a atual crise política, é impossível. Além de a inadimplência ser alta, não há incentivos para a população assumir uma postura autonomista, com uma classe média forte e abrangente. Pelo contrário, nos próximos anos veremos um ressurgimento da pobreza e da miséria em larga escala no Brasil, o que impedirá o país de crescer sustentavelmente através de uma forte classe média consumidora.

Segundo, o país precisaria de uma convergência política, de uma estabilidade política (e social) para criar reformas essenciais e duras (como ajustes fiscais, reforma tributária, desburocratização, manutenção de programas sociais importantes etc). Atualmente, o país vive um alto grau de radicalização e de instabilidade política e social, certamente continuada para depois das eleições de 2018.

Terceiro, a economia internacional precisa dar sinais de recuperação, para através das exportações o Brasil diversificar sua matriz exportadora (saindo da dependência da China) e começar a investir em capitais mais sustentáveis, com energias renováveis e uma nova estratégia nacional de desenvolvimento do território, das cidades e das regiões. Isso só será possível se houver, novamente, alguma coesão social e um cenário favorável no planeta.

Se a previsão, através desta análise, é de queda do PIB em 2016 e 2017, eu incluiria queda do PIB em 2018 e 2019, podendo ter um cenário de estagnação em 2020. O crescimento pode voltar timidamente a partir de 2021, se as principais medidas aqui demonstradas forem assumidas e se o cenário internacional demonstrar sinais de melhora. Tudo leva a crer que a eleição de 2018 será fundamental para o futuro do país. Se o discurso radicalizado continuar na eleição de 18 (o que é bem possível), podemos correr o risco de eleger um presidente sem apoio popular e político maciço, impedindo assim a convergência necessária para importantes reformas. O pior cenário de todos é, em 2018, o Brasil eleger um embuste. Se isso acontecer, é possível que tenhamos mais turbulências sociais, piora do cenário econômico e uma possível destruição de tudo aquilo que o país conquistou desde a redemocratização.

Podemos mudar isso? De certo, há várias maneiras deste cenário se alterar e de nós influenciarmos positivamente estas mudanças. Mas se este cenário e os interesses escusos por trás de cada elemento da crise brasileira forem maior do que a boa vontade daqueles que se preocupam com o futuro, talvez tenhamos de nos preparar para o pior. 

Obrigado pela leitura, 

Sasha Lamounier
Um brasileiro


Porto, Portugal
30 de Janeiro de 2016


Fontes e referências:


[2] http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/fmi-piora-projecoes-para-o-brasil-e-deixa-de-ver-crescimento-em-2017.html

[2.a] https://www.google.pt/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjV24C-7NDKAhWFOBoKHf6xCt8QFggsMAI&url=http%3A%2F%2Fwww.ibge.gov.br%2Fhome%2Fpresidencia%2Fnoticias%2Fimprensa%2Fppts%2F00000007765203112012522606619383.xls&usg=AFQjCNGhwgbtnyytzaPJvtwdmI7T_AdDCA&sig2=9RVlLsq8aLuepkxg3iv4gQ&bvm=bv.113034660,d.d24