Meritocracia e o
caminho para a Felicidade
Por
Sasha Lamounier
Sasha Lamounier
Com certeza você já ouviu falar em “meritocracia”.
E com 99% de certeza, essa palavra influencia sua vida de algum modo, direta ou
indiretamente. Seja através da escola, faculdade, trabalho, ideologia, família
ou sociedade de forma geral, a menção de honra ao mérito lhe é conhecido. Mas,
afinal, o que é meritocracia?
Do latim meritum,
"mérito" e do sufixo grego antigo κρατία (-cracía),
"poder”, meritocracia significa em sctricto sensu “poder do mérito”, ou, “mérito
com poder”. O mérito é a aptidão dado a algum sujeito. É uma forma de adequação
do ser a algum estado esperado, estado dito aqui no sentido de “condição”.
Portanto, meritocracia pode ser compreendida como a condição de representar uma expectativa esperada por alguma entidade.
Se você corresponde à expectativa, então você possui o mérito.
Mas que expectativa? Depende de que mérito
estamos falando. Se você trabalha numa empresa e espera ser promovido, a
expectativa é que você irá trabalhar corretamente para que esta promoção chegue
algum dia. Por exemplo, você irá fazer o que é preciso para se destacar. E ao
ser reconhecido por este esforço, você receberá a recompensa esperada. Logo,
pode-se dizer que a empresa respeitou a meritocracia, pois reconheceu o seu
mérito de buscar um determinado fim.
Posto isso, podemos definir a
meritocracia como o sistema onde o agente (aquele que age) busca um determinado
fim, com o objetivo de satisfazer alguma necessidade. Se sua busca for bem
sucedida, pode-se afirmar que o agente teve seu “mérito” reconhecido.
Uma sociedade de meritocracia é,
basicamente, uma sociedade de expectativa. Espera-se alguma coisa do agente
sempre. A questão chave, contudo, é justamente a mais óbvia: quem é este que
espera algo?
Pode ser uma empresa, pode ser sua
família, pode ser seus amigos, pode ser sua escola, pode ser você mesmo! Mais
importante do que entender a meritocracia, é compreender para quem existe o
mérito. Este é o problema central do termo que se tornou, para o liberalismo,
um verdadeiro engodo.
Defender a meritocracia é defender o
sistema da expectativa. Contudo, quem controla a expectativa é quem tem o
poder. Para o liberalismo, espera-se que todos sejam livres respeitando-se uns
aos outros. Respeitando-se a dignidade humana. O mérito, para o liberal,
significa apenas aquele que respeita os direitos individuais: vida, liberdade e
propriedade. Uma pessoa, uma entidade que age desta maneira, possui para nós um
mérito. O mérito para o liberalismo nunca foi “fazer de tudo pelo dinheiro”.
Isso é invenção da esquerda.
Para o socialista, contudo, também existe mérito. E o seu mérito é outra coisa. Se um governo controla a intervém na economia, de forma a “socializar os meios de produção”, então este governo é um governo de mérito. Se as empresas ficam com menos lucro graças a uma lei, então esta lei tem um mérito, para o esquerdista.
Portanto, “meritocracia” não é um
sistema liberal. Na verdade, meritocracia é um sistema humano, sem dono.
Trata-se apenas do sistema das expectativas. Se cada indivíduo identificar quem
é aquele que tem expectativa, ele será livre. Se você atende a uma expectativa
que não é sua, de que forma você pode ser livre? Se o que a empresa espera de
você não lhe faz feliz, para que continuar neste emprego? Se seus amigos não correspondem
ao que você busca, para que manter estes amigos? O ser mais importante é você
mesmo. Identifique quem é você.
Muitas vezes na vida nós repetimos as
expectativas dos outros. Reproduzimos o que a empresa quer de nós. E quando nos
tornamos incapazes de entregar o serviço esperado, a “meritocracia” entra em
ação e nos deixa deprimidos, infelizes, como se fôssemos o ser mais
irresponsável do mundo. Ignoramos que muitas vezes a expectativa nunca foi
nossa! Nós a compramos por algum motivo.
Isso também pode ser observado nos
relacionamentos. Se sua namorada ou namorado espera algo de você e você não
entrega o que é esperado, ele ou ela começará a cobrar. E esta cobrança logo se
tornará um problema, se tornará motivo de brigas sem sentido, até um dia o
casal se separar.
Quem é aquele que espera? É a pergunta
mais importante quando se fala de meritocracia. Para quem há o “mérito”?
Durante toda a sua vida você comprou o que lhe venderam. Eu lhe pergunto:
quando você se tornará autossuficiente? Quando você comprará as suas próprias
expectativas e não a dos outros?
A meritocracia como todo sistema de
poder, pode funcionar para beneficiar a humanidade como também para
escraviza-la. O único meio de identificar a boa meritocracia, é identificando a
origem da expectativa. Se você tem uma expectativa para consigo mesmo, analise
isso. Observe, veja se é isso mesmo que você quer para sua existência. Então, a
meritocracia será um sistema privado, individual, e não coletivo.
Se aquilo que você espera realmente for
o que você espera, então continue neste caminho. É o único caminho da
felicidade.
O que é o mérito para o pobre? E para o
rico? A maior parte dos problemas da humanidade advém desta falsa expectativa
que cada um cria para si mesmo. Aquele que não tem sente-se impelido em ter. Ou
seja, para ele, o “mérito” é significar que ele é alguma coisa que espera ser.
O rico pode ter todas as riquezas materiais do mundo, mas se ele não tem um
amor verdadeiro, se ele não tem o carinho dos filhos, como ele pode ser feliz?
Depende do que ele busca. Se um homem é rico, mas busca o amor dos filhos, e se
ele não tem este amor, então ele é pobre. Assim como o pobre pode ter o amor da
família, mas se ele quer dinheiro e não tem então este será o seu problema, a
sua pobreza.
Sendo assim, para ser livre do “sistema
das expectativas”, que é o verdadeiro nome da meritocracia, eu lhe convido a
investigar quem é aquele que possui a expectativa. Mérito de quem? Para quem?
Por que você busca o que busca? Quem é aquele que busca? Quando você encontrar
isso, a própria palavra “meritocracia” se tornará apenas uma palavra sem
sentido. Porque você será, finalmente, livre.
Porto - Portugal
26 de Maio de 2015