20/11/2016

A Era da Distopia


A Era da Distopia

Por

SASHA LAMOUNIER





A informação é Global, mas a resposta é local. Definitivamente estamos vivendo uma pressão informacional no planeta. Por um lado, o avanço tecnológico permite que o mundo fique menor e menor a cada dia. E também por isso os problemas de uma sociedade se tornam os problemas da localidade, ainda que na prática não tenha nenhum efeito ou impacto real.

Diz-se muito que a economia está globalizada. Mas isso é um engodo. A indústria nunca foi global e os inputs tecnológicos nunca foram globais. Um país emergente pode se desenvolver tecnologicamente, a exemplo de China e Índia, mas isso não significa que irá ter subsídios para manter este desenvolvimento no longo prazo. A economia se baseia numa construção de quatro modelos de industrialização: a de base, a de transformação, a de bens de consumo e finalmente, a de ponta. Mas todas elas estão intimamente ligadas e funcionam em harmonia na sociedade. Uma depende da outra. Portanto, se um país não tem apropriadamente desenvolvido as indústrias de base, de transformação e se não tem uma adequada indústria de bens e serviços (o que significa uma classe média deficitária), mesmo que tenha outputs da indústria de ponta, não conseguirá subsistir diante das nações que desenvolveram as demais indústrias (e que tem fortes classes médias).

O fim da Segunda Guerra criou uma condição na humanidade que deu origem a corrida tecnológica entre EUA e União Soviética. A Guerra Fria criou os anos 1960, 70 e 80. Foi o começo das distopias do começo do século XX na seara cultural e das revoluções sociais (era de Aquário etc). Surge um novo modelo de sociedade (em resposta ao pré-Segunda Guerra) advindo do receio de uma guerra nuclear. Uma nova utopia derivada dos velhos romances iluministas de um mundo igualitário e pacífico para todos. Junto disso, graças a tecnologia militar que pouco a pouco foi se tornando popular, o mundo começou a ficar menor. E os problemas locais se tornaram globais.

Com o fim da Guerra Fria, os EUA surge como a ponta-de-lança do novo contexto global. Internet, computadores pessoais e a indústria tecnológica se torna o carro-chefe dos anos 1990, 2000 e 2010. Em meio a esta dominância, surgem arranjos globais dispostos a promover uma política de bem-estar em sociedades de alto consumo, como a americana, europeia, latino-americana e asiática. Mas especialmente a Europeia e Americana. Este contexto cria a era liberal ou neokeynesiana, fortalecendo a União Europeia e o progressismo Democrata de Bill Clinton. O terrorismo e a guerra ao terror surge como um indício de ruptura deste sistema, mas sem de fato romper com nada. Bush mantêm a política de bem-estar até a crise de 2008. O terrorismo, que antes era um problema local do Oriente Médio e zonas de guerra, agora surge nas ruas e nas esquinas da sociedade de consumo. O medo tornou-se uma commoditie.

A crise dos subprimes e a quebra de importantes bancos leva Europa e EUA a rever o modelo de bem-estar social. Numa economia consumista, tendo a China como maior exportador de produtos da indústria de bens e serviços, a pressão por uma retomada das economias globais se torna uma questão de soberania política e influência de poder. O projeto europeu estremece e o progressismo americano é substituído pelo conservadorismo social daqueles que nunca estiveram de fato presentes na revolução burguesa dos grandes centros urbanos. Apesar disso, a crise de 2008 elege Barack Obama.

No contexto da crise da sociedade consumista, da crise do Estado do Bem-Estar, da informação global e da resposta local, o mundo tornou-se em um pequeno espaço de tempo um lugar caótico de se viver. O avanço tecnológico acontece mais rápido do que os problemas globais podem acompanhar. Isso cria distinções entre aqueles que estão inclusos no processo consumista e os que não estão inclusos. Naturalmente, isso dá margem para o surgimento de discursos populistas e isolacionistas. Se eu não posso desfrutar do consumo global, então a nação se torna mais importante do que um mercado que eu não desfruto – pensa o conservador moderno. Ainda que, em seu discurso, estejam indícios de uma influência informacional global que ele ignora.

O jovem nascido entre os anos 1990 e 2000 está descobrindo que ele não vive num filme de Hollywood. Mas ele descobre isso, com um agravante: ele quer fazer parte da história. Quer fazer parte da narrativa, tanto quanto ele faz parte das narrativas dos games, na qual ele é presença formadora e não apenas passiva do enredo. A sociedade moderna vive a quebra das utopias construídas nos anos 1960, 70 e 80 (a utopia do bem estar ou da Era de Aquário). A sociedade moderna descobre que o consumo não é global, apenas a informação. E a força, faz de tudo para se colocar presente neste processo de informação globalizada. A identidade local começa a ser realocada como uma questão central do futuro das sociedades. Ou se fortalece a cultura local, ou se perde ela para sempre. Esta é a dicotomia moderna. Este mesmo problema é percebido na Ásia, na Europa, na América do Norte e Latina e no próprio Oriente Médio. Mas especialmente nas Américas e Europa. Nos grandes centros consumistas, há uma crise de identidade. E quem a está sofrendo é a geração nascida no pós-Guerra Fria. Os “millennials” ou “geração Y”, como se denomina a geração nascida neste período nos EUA.

O terrorismo nunca foi uma real ameaça para as sociedades do consumo de modo geral. Depois do 11 de Setembro, se tornou um medo. Mas não necessariamente uma ameaça. Se os prédios não tivessem caído e se os aviões tivessem sido neutralizados a tempo, a sociedade do consumo não daria a mínima. A ameaça se dá no modo como o terrorismo tem agido hoje. A mesma Internet que dá voz ao consumismo global, deu voz ao Estado Islâmico, por exemplo. A mídia em sua plataforma expansiva de informação, deu voz aos vídeos de Osama Bin Laden. E hoje, a mesma Internet que deu espaço para a Deep Web, está dando espaço para o terrorismo. O medo se tornou uma commoditie. Uma ferramenta inicialmente militar, tornou-se promotora do consumo e agora surge como o grande cavalo de Tróia da modernidade.

Um problema que demandaria soluções simples tornou-se motivo para se falar da Terceira Guerra Mundial. Se estávamos perto de uma Terceira Guerra durante a Guerra Fria, e mesmo assim ela não aconteceu de fato, hoje ao falarmos de um conflito de proporções globais só podemos faze-lo porque nós sentimos o mundo menor do que antes. Este sentimento tem nome: World Wide Web, a teia mundial. O problema local é percebido como global. Ou seja, um problema no Oriente Médio se torna questão primária para um português ou brasileiro, mesmo que ele não tenha qualquer poder de influência nesta questão. Ele percebe como algo próximo, mesmo não o sendo. E diante de sua incapacidade de participar da narrativa, a utopia construída em finais do século XX se torna uma distopia.

O mundo não é pacífico. A democracia é uma farsa. O Estado é uma mentira. Os políticos não servem para nada. E ao mesmo tempo que utilizam este discurso anarquista, também defendem que se destrua o Estado Islâmico com mísseis. Fazem memes com Obama e Putin. Constroem narrativas da qual gostariam de fazer parte. O discurso nacionalista moderno e o discurso anarquista tem a mesma origem: o desconforto que a sociedade do consumo da virada do milênio sente ao não fazer parte do jogo, da narrativa global. Jovens acostumados a ter tudo o que querem, hoje se veem exigidos a não mais ter o que querem. Não se trata de um Game Over e um Reset. A agonia se baseia nisso. Logo, a sociedade do Bem-Estar é uma mentira. Logo, aqueles que me impedem de participar do jogo tem de ser destruídos. Essa mentalidade fez o Estado Islâmico recrutar soldados no Ocidente. Essa mentalidade fez Donald Trump ser eleito. Esta mentalidade tem feito o Estado liberal ser novamente ameaçado pelo populismo de direita e de esquerda, pela retórica do vencedor e do perdedor e pelo “nós” diante “deles”. A tese da sociedade global provou-se uma mentira, logo, é necessário regionalizar o planeta.

Não só a geração da virada do milênio se vê desiludida, como também a geração anterior, que construiu a utopia da Era de Aquário. Há uma clara distinção entre aqueles que fazem parte do processo de informação global e os que não fazem parte. Aqueles que são atendidos pelo padrão de consumo, ainda são progressistas e ainda acreditam no mundo. Mas aqueles que não são atendidos pelo padrão de consumo, “chutaram o pau da barraca”. E este grande grupo de indivíduos, que teve um choque em 2001, que perdeu esperanças em 2008 e que agora se vê em meio ao fim de sua utopia, brotam com o discurso fatalista. O problema é que este grupo de gente é muita gente.

O que virá depois? Que novo arranjo o mundo construirá diante desta distopia? Se a Era de Aquário era a utopia de um mundo igualitário, pacífico e unido, hoje vemos o total combate a esta utopia. O nascimento da distopia anti-aquariana pode, de fato, levar o planeta para o extremo oposto do que a utopia promovia. Ou seja, a tendência do planeta nesta primeira metade do século XXI é desigualdade, conflito armado e desunião de sociedades. Dos sete bilhões de seres humanos, apenas metade tem acesso a Internet. E mesmo assim, é a metade que influencia a outra metade. Se a distopia se torna uma realidade, então estamos diante do fim de um processo iluminista e o começo de uma outra época, que colocará progressistas e distópicos em conflito pela significação do futuro. O que será o mundo depois deste conflito, somente o tempo nos dirá. 





Obrigado pela leitura!

Boa Noite e Boa Sorte.

Sasha Lamounier

Porto - Portugal

20 de Novembro de 2016






21/10/2016

Que Brasil queremos?



QUE BRASIL QUEREMOS?

Por

Sasha Lamounier




A PEC 241


Primeiro, façamos um pequeno resumo conceitual do que significa a PEC (Proposta de Emenda Constitucional – 241), de 2016, a mais importante dos últimos 15 anos.

Ela prevê que o orçamento público federal primário, destinado para educação, saúde, funcionalismo público, construção etc, seja congelado nos valores de 2016 para os próximos 20 anos, corrigindo anualmente pela inflação. O que significa, na prática, que o orçamento de 2016 será o mesmo até 2036.

Questões relevantes e não ditas por ai: esta PEC não inclui a previdência (40% dos gastos primários) e não inclui os juros compostos da dívida pública.

A intenção da PEC é sinalizar para o investidor estrangeiro que o Brasil está controlando seus gastos e que, por isso, é um lugar saudável para se investir. Teoricamente, isso faria o Brasil crescer, economizando e diminuindo a pressão sobre a dívida.

Mas a pergunta que deve ser feita aqui é outra: qual é o modelo de Brasil que a PEC 241 defende indiretamente?



Um Projeto Nacional


Para além das dicotomias ideológicas, se esquerda ou direita, estado mínimo ou inchado e assim por diante, temos de ser pragmáticos. Economia significa economia política, antes de ser econometria. Porque tudo que ronda a sociedade, no final das contas, se traduz tanto como resultado econômico como também resultado político. Desde Adam Smith, economia é um composto de agentes privados e públicos atuando ao mesmo tempo. Nunca somente o agente privado.

Para este debate, precisamos compreender para que existe um orçamento público e a lógica de combate ao aumento da dívida via crescimento. A partir do momento em que o Estado existe enquanto finalizador do processo social e formador de uma unificada vontade nacional, ele possui também suas funções finais, as constitucionais, como por exemplo promover o bem-estar do povo, o crescimento e independência do país. Para tanto, o Estado através de seu Governo estrutura um cronograma de gastos e de receitas via tributação que serão aplicados nas demandas da sociedade que representa. Estas demandas, como dito, servem para atender os problemas que afligem a sociedade diante da impossibilidade de se alcançar os fins maiores do Estado.

O problema do caso brasileiro é que temos uma dívida crescente (hoje em 70% do PIB), uma queda séria na arrecadação, um processo de desindustrialização forte, queda do PIB e uma sociedade empobrecendo e aumentando de tamanho. Segundo dados oficiais do IBGE, a população brasileira, que hoje é de 206 milhões, chegará a 223 milhões em 2030. Ao mesmo tempo o número de idosos crescerá, afetando tanto a previdência social como também os cuidados com saúde. Portanto, o cenário em que a PEC é apresentada é de profunda crise econômica, empobrecimento da população (especialmente das classes média e pobre) e uma instabilidade política que impede qualquer solução factual de longo prazo.

O maior temor que justifica esta PEC é que a dívida continue crescendo até o ponto do calote, ou “sem retorno”, afetando assim toda a economia e o orçamento público.

Contudo, será que a PEC é a única forma de resolver o problema?

Qual é o grande “porém” da PEC 241, em termos econômicos?

Milton Friedman já dizia que em economia, importa mais aquilo que não se vê. Ou seja, os governos estão sempre cheios de boas intenções, mas isso não significa que as propostas apresentadas pelos governos vão, de fato, cumprir o objetivo da boa intenção. Importa portanto observar aquilo que a proposta não diz.

No cenário em que o Brasil se encontra atualmente, é inteligente congelar investimentos em educação e saúde para os próximos 20 anos?

Vamos entender isso pela seguinte metáfora.

Digamos que, no orçamento de 2016, é investido 10 reais em educação e 15 em saúde. Num total de 25 reais para o setor. Segundo a PEC, estes valores serão mantidos pelos próximos 20 anos, corrigindo-se apenas pela inflação (IPCA). Isso significa que em 2017, 18, 19 até 2036, o valor investido pelo governo federal em educação e saúde continuará sendo os 25 reais + inflação.

De que forma isso afeta a sociedade brasileira?

Se temos uma sociedade que envelhece, se temos mais pessoas nascendo, se temos cada vez mais pobres e mais necessidades em educação e saúde, então obviamente o que é gasto em 2016 será INSUFICENTE para os próximos 20 anos. Se hoje se gasta estes 25 reais, em apenas 2 anos podemos pular para uma necessidade de investimento na ordem de 35 reais. Imagina 20 anos.

O primeiro grande problema da PEC, portanto, é este corte abrupto no orçamento federal futuro. Considera-se corte, pois NECESSARIAMENTE o Brasil terá mais problemas em educação e saúde do que tem agora, uma vez que a sociedade brasileira está num curso ascendente tanto de empobrecimento geral como de aumento populacional. Este cenário é melhor representado no seguinte gráfico. Na linha vertical, considere uma projeção de investimentos federais em saúde e educação frente ao aumento populacional. Digamos, em nosso exemplo, que em 2016 é de 25 reais. Na linha horizontal, há os anos em que aquele orçamento fica em vigor, considerando o aumento de demanda agregada.  






Isso significa que, quando todos os dados apontam para um aprofundamento da crise social e econômica no Brasil (aumentando assim a demanda por serviços públicos de educação e saúde), a única solução encontrada pelo governo é de congelar gastos primários em dois fundamentais setores (educação e saúde) para os próximos 20 anos. Um orçamento que afeta o SUS, afeta as escolas federais, as universidades federais, os programas de assistência federal e assim por diante.

Se o projeto do governo é fazer o país crescer e, com isso, arrecadar mais, pergunta-se: qual é o projeto nacional de desenvolvimento do governo Temer?

Se o objetivo é atrair investimentos estrangeiros para, com isso, gerar emprego e receita, será que o projeto conseguirá evitar a escalada da dívida pública? Será suficiente gerar alguns empregos e arrecadar um pouco mais, as custas da população mais debilitada? Qual país do mundo civilizado se desenvolveu e pagou suas dívidas, sem uma burguesia nacional e sem uma massa minimamente desenvolvida?

A PEC 241 impede que o país desenvolva sua indústria, uma vez que afetando o orçamento de universidades e escolas federais, diminui-se um dos epicentros de excelência do país, que são as instituições onde novas tecnologias podem surgir. Isso significa que o brasileiro terá MENOR contribuição no processo de industrialização tecnológico neste primeiro quarto de século. Ao mesmo tempo, diminuindo os gastos em saúde, teremos mais serviços clandestinos surgindo, menos qualidade global nos serviços e mais gente penando para sobreviver.

A PEC 241 é, por si mesma, um projeto de colonização do Brasil. Pois se ela visa o investimento externo SEM NENHUM programa de desenvolvimento interno, então estamos entregando o emprego do brasileiro para as multinacionais internacionais, diminuindo a qualidade do emprego, da própria renda e da própria arrecadação. A PEC 241 também afeta o salário mínimo, que crescerá com muita lentidão nos próximos 20 anos, ao passo que a sociedade empobrece continuadamente. O poder de compra do brasileiro será minado e cada vez menos se produzirá riqueza nacional.

Portanto, é altamente provável que a PEC diminuirá a qualidade da educação pública brasileira, inclusive gerando um aumento de privatizações aos grandes conglomerados educacionais. Isso afetará não apenas os campos de pesquisa e ciência (fundamentais para o desenvolvimento da indústria nacional e internacional), como também afetará a educação básica, impedindo que a mão-de-obra brasileira se qualifique.

Oras, com uma mão-de-obra cada vez menos qualificada (e mais barata), com parcas alternativas de assistência médica de qualidade aos mais pobres, com uma indústria se desfalecendo, com multinacionais controlando nossa economia sem o brasileiro ter a capacidade de competir com tais multinacionais, que fim isso dará?

Geraremos fortuna para grandes bancos internacionais e grandes investidores estrangeiros, ao mesmo tempo em que aprofundamos o colapso econômico brasileiro para toda a metade do século XXI. Com um povo cada vez mais pobre, teremos menos arrecadação. Portanto, APESAR do corte e da “economia de gastos” nos próximos 20 anos, nada impedirá que tenhamos uma queda continuada da arrecadação durante os próximos 20 anos e além. Se não teremos capacidade de desenvolver riqueza nacional e de fortalecer a indústria nacional, então nosso destino é nos tornamos quintal das grandes potências tecnológicas e financeiras. Esta é a versão realista da PEC 241.

Não há outro cenário possível se esta PEC passar. De um jeito ou de outro, o curso natural da dívida brasileira é aumentar até o nível do calote. Ou nos próximos 4 anos, ou nos próximos 20 anos. De todo modo, a dívida vai aumentar.

Um cenário mais otimista diria que iríamos desenvolver nossa capacidade agropecuária e o Brasil se tornaria uma potência de investimentos agrários (como já é), ao mesmo tempo em que a dívida seria controlada pelos encargos recebidos de receitas da balança comercial e do comércio doméstico, fundamentado pelo poder de compra limitado do brasileiro diante da volta do emprego. Esta é a versão otimista. Mas até mesmo a versão otimista nos mostra a perversidade do que nos espera. Cada vez mais dependência externa, uma sociedade subdesenvolvida e um governo corrupto que mantêm o sistema funcionando para servir a seus próprios interesses.

Nós não temos como frear a dívida com a PEC 241. Porque esta PEC não nos garante desenvolvimento real, mas apenas retarda um problema que é histórico na sociedade brasileira: o subdesenvolvimento.



Qual deveria ser a alternativa a PEC 241?



Considerando as funções fundamentais do Estado no processo geopolítico moderno e histórico, a solução correta para a crise passaria por três fatores:

1.   Austeridade inteligente (cortar gastos em áreas secundárias, como propaganda do governo federal, salários de políticos, juízes e assim por diante).

2.      Auditoria da dívida (é necessário fazer um debate sério e público sobre a dívida federal, uma vez que não se pode pagar aquilo que não se conhece profundamente.).

3.   Reforma tributária (Ao mesmo tempo, precisamos de uma urgente reforma tributária, que facilite o investimento, o consumo e equilibre as contas. Portanto, precisamos aumentar certos impostos e diminuir outros.).


Uma das tributações que PODEM ser elevadas nesta reforma tributária e geraria uma receita extra ao governo em pouco tempo é o imposto sobre herança. Em países desenvolvidos, como EUA, este imposto fica na ordem dos 40%. No caso brasileiro, está apenas em 4%. A classe mais rica do Brasil é uma das que MENOS pagam impostos. Se queremos desenvolver uma sociedade, PRECISAMOS fortalecer a classe média, fortalecer o poder de investimento privado das micro e pequenas empresas e controlar o orçamento, fazendo com que os empresários brasileiros compitam com relevância perante os empresários estrangeiros. Uma sociedade que dá muitos privilégios a sua classe rica é uma sociedade sem competição. E onde não há competição, não há geração de riqueza.

Estas três etapas seriam, corretamente, as três grandes reformas que tirariam o Brasil da crise num curto espaço de tempo. Isso faria a receita aumentar, o Brasil voltaria a crescer e controlaríamos, da mesma maneira, os encargos sobre a dívida pública. Além disso, considerando estas propostas, um outro projeto de desenvolvimento nacional seria possível. Controlando o orçamento e, ao mesmo tempo em que se atrai investimentos externos e se desenvolve os micro e pequenos empresários, mais e mais teremos capacidade de ciar uma burguesia nacional capaz de gerar dividendos. Garantindo investimentos em educação, conseguiremos gerar incentivos em ciência e tecnologia que permita a esta nascente burguesia nacional competir com o mercado global. Desta forma, não estamos apenas combatendo a crise no Brasil, mas estamos empoderando o brasileiro perante o mundo e ajudando o próprio mundo a crescer!

Tudo é uma questão de interesses e convergências. O problema do Brasil é que não temos uma sociedade unificada politicamente, o que impede qualquer debate saudável no nível econômico. Também não temos uma oligarquia interessada em desenvolver o Brasil, mas apenas em seus próprios e provincianos interesses. Isso sem falar dos interesses externos que jamais gostaram da ideia de ver um Brasil forte e independente.

Nós não precisamos ser um segundo EUA. Não precisamos dominar o mundo. Mas a simples AUTONOMIA em gerar nossos recursos da nossa maneira, de falar de igual para igual com grandes potências e contribuir no cenário internacional de forma proactiva, é nosso dever enquanto civilização. O que estão fazendo hoje através da PEC 241, através da polarização radical na sociedade brasileira e da desinformação, é um processo de desestruturação do projeto Brasil e de todas as suas potencialidades.

Só isso, já deveria ser razão suficiente para se pegar em armas.

Obrigado pela leitura,

Sasha Lamounier
Um brasileiro.





19/07/2016

Ascensão e Queda das Civilizações: O Terrorismo


Ascensão e Queda das Civilizações
- O Terrorismo

Por 

Sasha Lamounier


A tradição liberal clássica (e iluminista) defende o secularismo, portanto, o Estado Laico. Defende também a primazia do indivíduo e seu direito de ser e viver a vida como melhor lhe aprouver. O liberalismo clássico eleva como princípios canônicos a vida, a liberdade e a propriedade de cada indivíduo. Portanto, o liberalismo promove a autonomia máxima do indivíduo diante de diferentes contextos limitantes. Em um mundo cada vez mais assolado pelo terrorismo (um medo coletivo), de que maneira o liberalismo clássico pode contribuir para uma reflexão?


Introdução 

O terrorismo é a ação praticada por alguma instituição, privada ou estatal, legítima ou ilegítima internacionalmente, com o propósito de causar danos físicos, morais e psicológicos em suas vítimas. O dano psicológico, contudo, é o maior objetivo do terrorismo. E é isso que o diferencia do crime hediondo comum. O ato terrorista pode ser reclamado por todo tipo de causa. Não é, portanto, necessariamente um ato de uma religião ou grupo humano específico. A história registrou, inclusive, grupos terroristas de várias religiões.

Por exemplo, o Lehi (Lutadores para a Liberdade de Israel) era um grupo paramilitar e terrorista sionista (judaico) que cometeu diversos atos terroristas contra o mandato Britânico da Palestina entre os anos de 1940 e 1948. O IRA (Exército Republicano Irlandês) é um grupo católico na Irlanda, de cunho paramilitar e que cometeu diversos atos terroristas, visando a reunificação das Irlandas. Temos também o ETA (Pátria Basca e Liberdade), cujo objetivo é alcançar a independência do país Basco, atualmente pertencente a Espanha. Há também o PKK (Partido dos Trabalhadores do Cudistão), acusado pela Turquia de usar do terrorismo e de ameaças para promover a separação dos curdos em regiões turcas, iraquianas, iranianas e sírias. Como outro exemplo, próximo as fronteiras brasileiras, podemos citar as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que visa a implementação de um estado socialista na Colômbia. Em todos os casos, trata-se de grupos combatidos por Estados. Portanto, são grupos classificados como não-estatais (paramilitares, voluntaristas, de organização privativa a seus membros). Portanto, são entidades que podem ser classificadas como “organizações privadas”, cujos objetivos são ideológicos.

Mas há também outros tipos de terrorismo. Como o estatal. Quando Hitler perseguia cidadãos alemães judeus para implementar sua doutrina racialista e ariana, ou quando Stalin mandava seus desafetos para os famosos Gulags, ambos atuavam como terroristas estatais. Eram seres humanos implementando a força contra outros seres humanos, criando medo e pânico para aqueles que não seguissem “as regras” de uma determinada ideologia. Contudo, vale lembrar que o Partido Nazista começou como um grupo voluntário até assumir o comando do governo alemão, tornando-se assim uma instituição de cunho estatal. Acontece também com Stalin, que utilizou sua influência no Partido Comunista Soviético para ascender ao poder. Mesmo que para isso tivesse de matar seus desafetos internos do próprio partido, como Trotsky (assassinado a mando de Stalin).

Mas como estes grupos chegam a tal extremismo e fanatismo de ideias? Como o Partido Nazista surgiu na Alemanha? Como Stalin surgiu na União Soviética? Como o Lehi, o IRA, o ETA, as FARC e tantos outros grupos ocidentais surgiram? Entender isso talvez nos dê uma luz para compreender como surgiram os diversos grupos terroristas islâmicos. Para compreender, recomendo os seguintes documentários e textos:


Lehi – Grupo terrorista sionista:



Terceiro Reich – A Ascensão:





Sobre o IRA (História da Irlanda - A Luta pela Independência):




O que podemos observar por esta breve investigação são algumas condicionantes básicas para o surgimento do extremismo e fanatismo:

1.      Crise social:

A primeira coisa que precisa existir num determinado lugar para surgir grupos extremistas, dispostos a atos terroristas, é uma profunda crise social. Ou seja, divisão entre os muito ricos ou muito pobres, entre o estado vassalo e o estado dominante, entre o lado forte e o lado fraco. Sempre há dois lados na crise social. No caso da Alemanha pré-nazista, a Alemanha estava fraca e humilhada diante de toda Europa. Hitler surge neste espaço onde a necessidade de um renascimento alemão era imperativa. Na Irlanda do Norte, o cisma protestante e católico era antigo, criava tensões entre a Igreja da Inglaterra e os católicos irlandeses. Como manter uma Irlanda do Norte presa ao Parlamento britânico sediado em Londres (Inglaterra), sem com isso criar tensões? No Mandato Britânico da Palestina, os árabes eram a pesada maioria da população. Os Lehi (parte mais radical do Irgun, um grupo paramilitar israelense) desejavam impor o fim do mandato britânico para, com isso, impulsionar a imigração judaica para a região (aumentando, assim, o número de judeus frente ao de muçulmanos). No caso do Lehi e Israel, a tensão social entre árabes e judeus foi CRIADA pelos judeus e sua ânsia sionista.

2.      Crise econômica:

Além da crise social já ser uma importante condicionante para o extremismo, há um segundo fator que pode tornar ainda mais passional o contexto dos povos: a falta de boas condições de sobrevivência. A Alemanha, além de estar fraca e humilhada, também estava falida. O povo mal tinha trabalho e grande parte dos alemães eram pobres. Por isso o nome do partido nazista era “Partido dos Trabalhadores Alemães”. Isso explica a relativa facilidade de Hitler em ascender ao poder. Ele criou promessas para um povo necessitado de utopia. Ele criou o Terceiro Reich, o grande império alemão que nascera para conquistar os povos menos civilizados. Uma tese muito parecida com o atual extremismo islâmico…

3.      Contexto político:

O contexto político, por fim, é fundamental para o surgimento destes grupos. Se um país tem uma falha democracia ou um povo muito mal instruído para resolver suas demandas, ou ainda um povo muito desesperado por soluções, messias de toda ordem naturalmente vão surgir. Como se diz em ciência política, o poder não tem espaços vazios. Se uma democracia tem algum espaço vazio, ele será ocupado. Foi assim na Alemanha, foi assim na Irlanda do Norte, foi assim no País Basco, foi assim na Colômbia, na União Soviética, na França de Napoleão Bonaparte, na China de Mao Tse Tung e tem sido assim no Oriente Médio.



Um problema civilizacional

Poderíamos dizer, numa digressão mais profunda, que o messianismo é um mal das tradições judaico-cristãs e muçulmana. Afinal, o judaísmo, que é a primeira grande religião monoteísta do Ocidente nos revela que haverá um messias para reconstruir a Nação de Israel. O pai do judaísmo (Abraão) é também o pai do cristianismo e do islamismo. O cristianismo diz que Jesus Cristo foi este messias e que ele fundou uma nova aliança, terminando com o velho testamento para iniciar o novo. Já o islamismo diz que Jesus (Isa, pela grafia árabe) foi um grande profeta, mas não o último. Maomé teria sido o grande profeta, que teria terminado aquilo iniciado com Abraão (Ibrahim, pela grafia árabe). Ou seja, judaísmo, cristianismo e islamismo fazem parte da mesma tradição monoteísta. 

Portanto, quando falamos de terrorismo islâmico, estamos advogando em favor de duas tradições e condenando uma outra. Falar do terrorismo “islâmico” é condenar toda uma civilização ao rótulo de “bárbaros”. Exatamente o que fizeram os romanos com os povos não romanos. Ou os judeus com os gentios. O problema é que, historicamente, a tradição judaico-cristã (anterior ao islamismo) foi a formuladora original do terrorismo. No tempo de Jesus, muitos judeus consideravam que ele seria o grande vingador contra a dominação romana. Muitos esperavam pela revolução armada contra Roma. Coisa que Jesus negou e, por isso, foi muito facilmente traído pelos seus iguais. Vale lembrar que Jesus era judeu. A crucificação era uma morte lenta e dolorosa, aplicável aos piores criminosos. E foi assim que “seu povo” julgou Jesus. Maomé, contudo, foi um profeta que não ficou apenas nas palavras. Ele promoveu um sistema econômico, social e político inteiro. E muito pacífico para sua época, considerando que romanos, judeus, gregos, persas e árabes adotaram as mesmas punições severas para crimes de toda ordem.

Conservadores ocidentalistas tem a tendência de considerar os árabes como invasores. Mas se tivermos de ir longe na história, teremos de falar do Império helênico (ocidental) que invadiu a Pérsia (atual arábia). Teremos de falar das guerras do mediterrâneo, que dariam origem ao Império Romano (ocidental). Teremos de falar das invasões romanas. Teremos de falar do surgimento do islamismo como uma defesa dos povos locais (arábicos) contra as invasões e dominação romana. Chegaremos aos califados islâmicos, combatidos posteriormente pelos povos europeus pós-romanos. Na ascensão das nações cristãs, veremos o nascimento das cruzadas, como tentativas de reconquista ocidental do território sagrado de Jerusalém. Uma região que viu nascer três grandes religiões e que, historicamente, se confundem.




Não há aqui agressor inicial ou final. Não há aqui o certo ou o errado. Mas há um conflito civilizacional antigo, impulsionado por questões práticas e realistas. Cada tempo criou seu paradigma. Cada civilização criou seu messias. Quando falamos de extremismo islâmico, precisamos entender como surgiu o extremismo islâmico. Porque existe o Hamas e o Fatah, na Palestina? Porque surgiu a Al Qaeda? O que busca o Estado Islâmico? 

Hamas e Fatah brigam pela libertação da Palestina que, anteriormente, foi invadido por judeus que, através dos Lehi, impulsionaram a imigração judaica para o território da Palestina, obrigando que o Mandato Britânico da Palestina criasse ali um Estado Judeu.

A Al Qaeda advoga pela unificação dos estados islâmicos, o chamado “pan-islamismo”, coisa que o Estado Islâmico (famoso ISIS ou Daesh) também defende. Oras, a defesa de utópicos impérios que possam unificar “religiões e etnias melhores do que outras” não lhe parece familiar? Acho que já ouvimos essa história lá atrás, com Hitler e o partido Nazista. E não é para menos. O nazismo foi, DE FATO, a inspiração do terrorismo islâmico moderno.



Recomendo este artigo, para compreender esta questão:



A instabilidade no Oriente Médio existe desde sempre. Mas aprofundou-se vertiginosamente no período da Primeira Guerra Mundial (chamada de a grande guerra imperialista) e o fim do Império Otomano e desenvolvimento dos Mandatos Britânicos. Literalmente, os ingleses (vencedores da primeira guerra mundial) “passaram a régua” e dividiram os territórios como melhor interessava aos interesses britânicos. Depois da Segunda Guerra, enfraquecidos, dividiram a Palestina de acordo com a vontade do lobby sionista. Mas não se fundiram ali nações coesas, e sim truncadas, com diferentes concepções religiosas (sunitas e xiitas, por exemplo) obrigadas a compartilhar do mesmo território. Este cenário favoreceu a instabilidade social, criando entraves para o desenvolvimento econômico e político da região. Estes entraves, contudo, em nada atrapalharam os interesses ocidentais. Israel tornou-se grande advogado do Ocidente no Oriente Médio. Israel representa, para os árabes, aquilo que os britânicos, os otomanos e os romanos representaram no passado. Esta é a chave para compreender a motivação do extremismo islâmico, que tenderá a crescer enquanto o Ocidente tratar o problema como tão e unicamente “árabe”.

A revolução industrial atingiu de maneiras diferentes as diferentes regiões do mundo. E isso inclui o Oriente Médio. 

Não, o problema do terrorismo não é “árabe”. É claro que o terrorista vai procurar justificação moral para seus atos. O Corão, como todo livro antigo, possui passagens que justificam o extremismo islâmico (como também a Bíblia e a Torá possuem as mesmas violentas passagens). Contudo, é importante frisar que contextualmente Maomé surgiu como um combatente anti-romano (portanto, anti invasão ocidental). E é Maomé o equivalente árabe em importância a Jesus, para o Ocidente. A “invasão” ocidental via mercados financeiros e pela cultura de grande mídia é, para muitos árabes, uma violação moderna de sua identidade. O mundo ocidental, pelo soft power, invade o Oriente Médio tanto quanto Roma um dia invadiu a mesma região. Daí entende-se o crescimento do fundamentalismo islâmico. O messianismo do califado islâmico paira como uma sombra em cima de nações e sociedades que sofrem com a pobreza, com governantes corruptos e com a falta de opção. O mundo tem mais de 1,5 bilhão de muçulmanos. E apenas uma ínfima parcela destes 1,5 bilhão de muçulmanos é terrorista. A maior parte dos muçulmanos é coagido pelos extremistas (que caem no calabouço da ignorância e do desespero). Morre mais muçulmano vítima de ataque terrorista do que ocidental. E este dado deveria ser relevante. 

Mapa que mostra, entre 2000 e 2014, o volume de ataques terroristas por região do mundo:


Por país: 



Qual é a solução?

A questão do terrorismo implica diversas diferentes formas de soluções. Primeiro, o perfil do terrorista é suicida. Portanto, ele não liga para a própria vida. Na verdade, ele já desistiu da própria vida para tentar gerar um impacto além-vida. Você não vence alguém disposto a morrer, com a morte. Logo, apesar do combate ser parte do remédio que pode impedir novos ataques terroristas mundo afora, ele está distante de ser a solução.

O que faz o terrorista perder o amor pela vida? Talvez a resposta esteja mais perto do que imaginamos. O que faz um traficante de drogas perder o amor pela própria vida? Atrocidades e brutalidades acontecem diariamente no mundo e em todos os continentes. A diferença é que o terrorista aprendeu a usar a tecnologia e a psicologia a seu favor. Do mesmo modo que a grande mídia e a Internet serviu para unir o mundo, serviu para espalhar rapidamente todo tipo de informação. Nisto incluso as atrocidades criminosas mundo afora. Terroristas não são diferentes de criminosos no ato. Eles se diferenciam pela justificativa, mas não pelo ato. O traficante de drogas não existe apenas por uma psicopatia latente na personalidade. O traficante surge quando, ainda criança, ele vê seus pais sendo mortos em sua frente. Ou quando vê sua mãe sendo estuprada ou definhando de fome. São nestes momentos que o desprezo pela vida e o sentimento de “justiçamento” aparece. Para que respeitar as regras, se as regras mataram meus pais? O que há de melhor numa cultura estrangeira que não segue o que meus pais, avós, bisavós e toda a gente da minha cidade segue? Porque não posso ter um país livre e próspero, enquanto todo o mundo Ocidental vive esbanjando tecnologia e desenvolvimento?

É no meio destas perguntas que surgem as ideologias. No Oriente Médio, muitos “messias” fazem nome vendendo soluções simples. Se falta um debate mais aprofundado no Ocidente sobre os problemas do Oriente Médio, também no Oriente Médio falta maior instrução de seu povo quanto aos problemas por eles enfrentados. São gerações de muçulmanos que se sentem injustiçados pelo mundo. São povos que não tem identidades coesas. E no entanto, no meio de tantas identidades discordantes, ainda assim todos tem os mesmos problemas.

Os grupos extremistas não se fortalecem graças ao muçulmano. O muçulmano comum, o médio, quer apenas viver sua vida, com suas tradições ao lado de sua família. Ninguém gosta de perder um ente querido. Muito menos os muçulmanos. No entanto, quando os EUA financia a Al Qaeda para combater a União Soviética, ou quando os EUA financia o Estado Islâmico para combater o governo sírio, ai sim o terrorismo se fortalece. Quando o petróleo do Oriente Médio interessa as nações industriais do Ocidente, ai temos a corrupção de governos e a manipulação de um sistema de poder. Não nos cabe simplificar as coisas. E por isso, esta moderna guerra é uma guerra de consciência. Uma guerra sistêmica. O muçulmano comum não é nosso inimigo. Ele é nosso igual. Porque ele é vítima de um sistema que nós também somos vítima. O desejo de liberdade que nós tanto temos, o muçulmano também tem.

É preciso diálogo. É preciso esclarecimento. É preciso união. E enquanto isso não acontecer, um novo ataque terrorista sempre vai surgir em qualquer lugar. Depois do ataque em Nice, em Julho de 2016, na França, ficou evidente que o terrorista não precisa de armas ou bombas. Basta vontade. Uma faca de cozinha, um carro, um caminhão, uma caneta… Qualquer coisa pode ser usado para matar. O Estado Islâmico (mais poderoso grupo terrorista da atualidade), sempre aproveitará qualquer ataque para reivindicar autoria (mesmo que nem se comprove a autoria). Faz parte da estratégia do medo.

Em 2015, milhares de refugiados da guerra na Síria tentaram a sorte desesperada no Mediterrâneo e na fronteira turca com a Europa. Eram mais de 900 mil refugiados. Como os governos europeus responderam? Primeiro com indiferença. Depois, com vitimismo. E para piorar, quando o Estado Islâmico afirmou que 4 mil terroristas estavam infiltrados entre os refugiados, como os conservadores mundo afora responderam? Negando-os, sobre pretexto de que os 900 mil refugiados eram potencialmente terroristas (ignorando que havia famílias inteiras entre os refugiados, crianças, bebê e idosos...).

O Ocidente se esquece que, dos 5 milhões de refugiados, pelo menos 4,8 milhões foram para os países ÁRABES vizinhos. Somente 900 mil vieram para Europa. Mas isso já foi suficiente para falarem em “islamização da Europa”. [1] [2]

Oras, ninguém percebe que o medo de “islamização da Europa” é idêntico ao medo de “ocidentalização” dos muçulmanos? Extremismo versus extremismo. É disso que se trata. A cura para este problema está na contramão do extremismo. É preciso compreensão. É preciso saber o que acontece em cada contexto. Somente assim, pela empatia, pela preocupação com o semelhante, é que conseguiremos criar caminhos para um diálogo duradouro.

O liberalismo clássico, enquanto tradição do pensamento filosófico, não pode lhe oferecer uma solução rápida ou definitiva. Mas indica um norte. Se buscamos a maior autonomia possível do indivíduo diante de diferentes contextos, também neste caso precisamos combater a coletivização do medo, do terror e da estigmatização de civilizações para assumir uma postura mais crítica, mais madura e mais realista. 

Não haverá nenhum novo messias neste mundo. E esta é a simples realidade. Todo aquele que surgir como o messias estará reafirmando o divisionismo e o extremismo. A solução, portanto, está dentro de cada indivíduo, sozinho e isolado em sua própria catarse pessoal e consciência. Sozinhos, mas vivendo em rede, é onde podemos mudar um mundo doente. 

Grato pela leitura,

Sasha Lamounier
Um Liberal Clássico no Século XXI



Referências:







03/06/2016

A Revolução não será compartilhada



A Revolução não será compartilhada

Por

Sasha Lamounier


Observando as notícias acerca do Brasil e comparando com as notícias do mundo, reparo que há um movimento global acontecendo. Algo que não é restrito às fronteiras verdes e amarelas, mas que é, sem dúvida alguma, mundial. Longe das teorias da conspiração, criadas tanto por comunistas quanto por conservadores, há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e por diferentes motivos. E tudo isso vem criando uma grande confusão para aquele que se vê no olho do furacão.

Neste artigo, vou tentar apresentar um pouco destas observações ao mesmo tempo em que me posicionarei, enquanto pensador, diante delas.


1.      O que está acontecendo?

Seja na América Latina, Europa, Oriente Médio, Ásia ou qualquer canto do mundo, uma coisa é unanimidade: 44% dos seres humanos deste planeta estão conectados. Segundo dados do State of Connectivity 2015, são 3,2 bilhões de indivíduos ligados a Internet, num mundo com mais ou menos 7,3 bilhões de seres humanos. [1]

Isso indica que quase metade da humanidade está sujeita a receber todo tipo de conteúdo compartilhado nas redes. Este texto (publicado num blog) é destinado, justamente, a esta parcela da população que tem acesso a Internet.

Quase todo jovem tem uma conta no Facebook. E grande parte daqueles que tem acesso a Internet, também. Tecnicamente falando, o Facebook (assim como a maior parte dos sites na Internet), utiliza como modelo estrutural de texto, o hipertexto. O que é o hipertexto? Como a palavra já diz, é um “super texto” que não tem um fim definido, como uma página de livros ou jornais impressos. A rolagem do cursor faz com que o texto lido pelo internauta seja uma continuidade constante (o que impede, por exemplo, que o leitor foque sua atenção em uma só coisa, uma vez que há mais conteúdo “por conhecer” na rolagem). Além disso, o hipertexto também é intertexto, uma vez que há links que fazem a ligação de um texto para outros quaisquer. O impacto social deste modelo ainda é objeto de estudo por especialistas da semiótica. Mas de todo modo, serve como um importante dado para o que acontece na sociedade moderna. [2]

O leitor virtual é tido, pelos designes de conteúdo web, como preguiçoso. Ele precisa ter acesso a informação o mais rápido e intuitivamente possível, pois a natureza da Internet é a mutabilidade constante. Portanto, se o texto não é aprazível no curtíssimo prazo, não interessa. Num planeta onde 44% da população vive diariamente alimentada por hipertextos, naturalmente teremos uma mentalidade do descarte e da superficialidade. É aqui que a informação se diferencia do conhecimento. O indivíduo moderno tem acesso a muita informação. Mas o problema é que informar demais, também é desinformar. Isto porque o grande fluxo informacional pode, ao internauta desatento, formatar conceitos contraditórios sobre um mesmo tema. Por exemplo: Se eu disser que uma salada salgada tem bananas e ameixas, e logo depois você ler que bananas e ameixas fazem parte de saladas doces, há aqui uma contrariedade sem sentido claro, uma vez que não há explicações detalhadas do que seria uma salada salgada e uma salada doce. O mesmo ocorre com basicamente TUDO o que o internauta lê na Internet. O conhecimento está disperso em muitas informações. E nem todo mundo sabe separar o que é pertinente daquilo que é descartável.





2.      O que isso tem a ver com política e sociedade?

Se a sociedade virtual é superficial em termos de conhecimento e mais dispersa em termos de interesses, facilmente o que surge e acontece num lugar do mundo terá algum impacto em outro lugar do mundo. Não há mais uma lógica “de fronteira” para o nativo virtual. O mundo tornou-se uma coisa só. E temos vários exemplos de como isso funciona na prática. Por exemplo, a Primavera Árabe de 2011.  As “revoluções” na Líbia e Egito foram impulsionadas pelas redes sociais e as informações e desejos lá compartilhadas. Do mesmo modo que a Síria entrou em guerra civil através de protestos organizados pelas redes sociais. Dentro deste contexto, surge também o Estado Islâmico. E de que modo o ISIS recruta seus combatentes no mundo todo? Novamente, usando as redes sociais e a Internet. [3]

Se observarmos o conteúdo dos discursos, tanto na Primavera Árabe quanto no Estado Islâmico, veremos um mesmo sintoma: radicalismo e superficialidade. Já falamos da superficialidade. No caso do radicalismo, ele surge como fruto do vazio de conhecimento (fruto da superficialidade). A informação alarmista e descartável torna-se o problema central da vida do leitor, que de algum modo se identifica com o alarme. Novamente, o internauta é preguiçoso. Ele quer logo avançar naquilo que decidiu ler ou fazer. Não quer perder tempo fazendo pesquisa ou debatendo. Se ele resolveu clicar num link, é porque ele quer entrar neste link. Do mesmo modo, se um radical em potencial resolveu aderir ao discurso radical, ele fará isso até o fim. Neste entremeio, surge a ignorância.

O que os protestantes da Primavera Árabe queriam? Democracia. Era o “download” que eles optaram por fazer. Mas que democracia? Que sistema democrático? Com que tipo de reformas políticas? Qual era a agenda?

Não havia. Apenas baixaram o valor “democracia”. A Primavera Árabe foi uma revolta virtual que se projetou nas ruas. A espectativa de resultados no curtíssimo prazo, como num hipertexto, fez com que a discussão de algo necessariamente de longo prazo (como o futuro de uma nação ou uma sociedade) ficasse em segundo plano. Para que comentar, se posso curtir? Comentar demanda tempo. E eu (internauta) não tenho este tempo… Eis a superficialidade.

Quais são as demandas do Estado Islâmico? Qual é a base de sustentação da organização? Criado por ex-militares iraquianos e ex-membros da Al Qaeda, o ISIS surgiu com um discurso mais radical do que qualquer outro grupo paramilitar islâmico. O discurso do Daesh (como também é conhecido o ISIS) é o “retorno” a um tempo de glória no mundo árabe, onde Maomé ainda era vivo e ditava as leis diretamente, de acordo com os costumes da época (cerca de 1600 anos atrás). Novamente, percebe-se aqui uma preguiça intelectual. Ao invés de criar algo novo, ou um caminho diferente, resolveram fazer “download” literal de uma interpretação superficial do Islamismo para, assim, responder a suas “necessidades”. Não há vontade de discutir os problemas do Oriente Médio no ISIS, não há sequer uma pauta política definida (como o IRA na Irlanda do Norte), mas há uma necessidade de aproveitar um rebuliço social (Síria) para se criar uma metonímia do “islamismo perfeito e ideal”. Daí o nome “Estado Islâmico”, pois pretende-se, com isso, reviver o antigo e sonhado “Estado islâmico” de todos os muçulmanos do planeta. Eis o radicalismo. [4]

Seria este radicalismo e superficialidade um problema apenas destas nações desestruturadas do Oriente Médio? Será que somente eles utilizam a Internet como forma de radicalização do discurso?

O Oriente Médio tem cerca de 270 milhões de pessoas. E os muçulmanos no mundo são mais ou menos 1,5 bilhão. Se estamos falando de uma população de 3,2 bilhões conectados as redes, obviamente, não são todos árabes ou muçulmanos. Na verdade, em sua maioria são ocidentais. Membros da famosa “sociedade judaico-cristã”, de tradição greco-romana e europeizada.

Aquilo que vemos acontecer no Oriente Médio, que já é uma região desestruturada politicamente há muito tempo, é apenas um alerta do que ainda podemos ver ao redor do mundo, se não tomarmos muito cuidado.


Nos EUA, onde a grande maioria da população é conectada, temos visto surgir discursos superficiais e radicais sobre tudo. Há 20 anos atrás, alguém acreditaria que Donald Trump seria o candidato do Partido Republicano, prometendo construir um muro entre EUA e México e promovendo o mais alto grau de protecionismo econômico da história americana? Nem mesmo os Bush apoiam Trump. No entanto, ele superou todos os demais pré-candidatos do GOP e será o representante republicano contra o(a) candidato(a) democrata, com um discurso semelhante ao do ISIS: “Make America Great Again” (Fazer a América grande de novo). Ou seja, “retornar” a um período de suposta glória que os EUA teria vivido no passado. Novamente, o “download” ideológico. [5]

Obama foi o primeiro candidato a presidência dos EUA a entender esta lógica da sociedade virtual e surgiu apostando firmemente na campanha na web. Deu tão certo, que sua campanha de 2008 com o “Yes We Can” se tornou exemplo para diversas outras campanhas presidenciais. No Brasil, em 2010, Dilma Rousseff foi eleita seguindo o mesmo padrão da candidatura Obama.

Na Europa, o debate a cerca do extremismo islâmico e das soluções para o problema seguem a mesma lógica. Ao invés de debater a questão seriamente, entendendo o que acontece no Oriente Médio e qual a relação da União Europeia, EUA e Rússia com isso, opta-se pelo discurso mais “fácil de baixar”. Ou seja, o radical. Recentemente, na Áustria, um candidato de extrema-direita (Norbert Hofer) quase foi eleito presidente do país. [6] A única coisa que impediu sua eleição foi o voto dos imigrantes austríacos, que correram contra o tempo para votar no outro candidato (Alexander van der Bellen), impedindo que Hofer fosse o vitorioso. Na França, o discurso radical dos Le Pen tem crescido, especialmente depois dos atentados de 2015. Embora grande parte da população europeia ainda busque se aprofundar neste debate, a tendência do “download ideológico” criar surpresas é cada vez mais intensa.


3.      E no Brasil?

Finalmente, no Brasil, temos desde 2013 um movimento semelhante. Grande parte da população começou a ter acesso a Internet nos últimos 15 anos, fruto do crescimento econômico e das políticas de inclusão social, em especial do governo petista. Por mais que haja alguma polêmica quanto a isso, os dados mostram que o combate a pobreza no governo Lula e o surgimento da “Nova Classe C” favoreceu muito o acesso a Internet por parte de brasileiros nas mais diversas regiões. Em 2013, no ano da Copa das Confederações (o “ensaio geral” para a Copa do Mundo), o país parou. Eram manifestações gigantescas, com pautas de todo tipo. Gente que saía as ruas pedindo tudo o que sempre ouviram nas escolas, na TV e no senso comum: mais saúde, mais educação, menos corrupção, menos violência etc. Se olharmos criticamente, veremos que já em 2013 as pautas eram um grande “download” político.

Nas eleições de 2014 (poucos meses depois do Brasil perder vergonhosamente a Copa que sediava), tivemos a mais polarizada eleição desde Lula e Collor em 1989. Como se não bastasse, um candidato a presidência morre num acidente aéreo (Eduardo Campos), mexendo ainda mais no jogo político eleitoral. Nestas eleições, o Congresso mais conservador desde os anos 1980 seria eleito e ao mesmo tempo Dilma Rousseff seria reeleita presidente da República. Com esta configuração e com 2013 bem fresco na memória coletiva do brasileiro, 2015 certamente não seria um ano normal na política. O que acontece a seguir é semelhante as revoluções árabes de 2011. Aqueles que votaram no outro candidato (Aécio Neves) optaram por ou não reconhecer a Presidente eleita, ou simplesmente defender seu afastamento por supostas irregularidades nas contas de 2014. Claro que, o grande sustentador deste rebuliço era a economia, que começava em 2013 a dar sinais de fragilidade. Mas havia um combustível a mais…

Pois bem, a dúvida que surge é: o que acontecia nas redes que justificasse este rebuliço todo? Simples, a velha guerra de informação. Não havia nenhum debate sobre o Brasil e seu futuro. E quanto a isso, eu (Sasha) sou fonte primária, pois estive em todo tipo de debate virtual desde final de 2012. Por um lado, haviam os argumentos governistas, já conhecidos da sociedade brasileira desde que Lula foi eleito em 2002. De outro lado, haviam as “oposições” ideológicas, alarmistas, que defendiam um agenda diferente da governista, sempre acusando o governo do crime maior para a parcela conservadora da sociedade brasileira: o PT é “comunista”. O terror começou a tomar conta de todo debate. “Este governo tem de cair logo, querem transformar o Brasil numa União Soviética!” dizia o jovem nascido depois da queda do Muro de Berlin e que tinha acesso a Internet depois de sua família ascender a classe média no governo Lula.

Como este discurso alarmista surgiu? De um lado havia o velho astrólogo e jornalista Olavo de Carvalho, famoso por seus artigos conservadores nos jornais O Globo e Jornal do Brasil. Olavo vive nos EUA e tem contato direto com os mesmos republicanos que hoje votam em Donald Trump. Seu discurso? “Pelo retorno da sociedade judaico-cristã, contra o projeto globalista islâmico e comunista”. Sim, é isso mesmo que você pensou: é outro download ideológico.

Além dele, há os Institutos “Liberais”, como o Mises Brasil, o Instituto Liberal, o Instituto Millennium e o Estudantes pela Liberdade (do qual o Movimento Brasil Livre é fruto), que muito longe de serem fóruns de debates amplos e abertos sobre política são, antes de tudo, centros de doutrinação neoliberal e conservadora. Em resumo, mais um outro download ideológico.

Unindo-se a estas duas forças virtuais que bradavam contra o governo e usavam a população desejosa de “tudo” em 2013, estavam outros jornalistas (Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi), o economista Rodrigo Constantino e uma parte da mídia que denunciava, com ampla divulgação, grampos e acusações contra o governo como se fossem “julgamentos definidos”. Todo mundo tornou-se culpado até que se prove o contrário. O que notamos com isso?

Vamos a lista, fato a fato:

1.      Em 2013 tínhamos uma população de classe média B e C, com acesso a Internet, desejosas de melhores serviços públicos, como transporte, educação, saúde, saneamento básico, contra a corrupção, pelo respeito aos impostos e todas as demais pautas “senso comum” da sociedade brasileira. Os protestos eram organizados pelo Facebook.

2.      Olavo de Carvalho começa a tornar-se viral na Internet em meados de 2009, através de seu curso de filosofia online (ele vive nos EUA, mas a divulgação de seus cursos são no Brasil). Antes, Olavo era um conhecido ensaísta e autor, mas sem notoriedade de massas como a Internet lhe proporcionou.

3.  Ao mesmo tempo, já desde 2005, pelo menos, haviam institutos alinhados com o neoliberalismo do Consenso de Washington e com o conservadorismo social discutindo soluções para vencer o discurso petista. Entre eles, os citados Instituto Millenium (criado em 2005), Instituto Mises Brasil (surgido em meados de 2008 e 2009) e o Estudantes pela Liberdade (surgido no Brasil em 2012). Todos com plataformas virtuais (sites, blogs e canais no YouTube) para divulgação.

4.     Em 2014 surge a Operação Lava Jato, sediada em Curitiba pelo Juiz Sérgio Moro, com foco na investigação de um esquema sistêmico de corrupção envolvendo a maior empresa brasileira: Petrobrás. Cada novo escândalo noticiado pela grande mídia torna-se assunto do dia, da semana e do mês nas redes sociais.

Tudo isso, ao mesmo tempo em que no mundo a crise financeira de 2007-08 criava uma série de colapsos econômicos e exigia medidas estatais e austeras para salvar as principais economias do mundo. E ao mesmo tempo em que as denúncias de espionagem da NSA viam a público, através de Edward Snowden. Uma delas, inclusive, tratava da espionagem do governo americano nos emails e celulares da presidente Dilma Rousseff e na Petrobrás.




A partir de 2013, por diferentes motivos, a sociedade brasileira começou a sentir o peso da inflação e os custos que, antes, favoreciam a classe média. Portanto, o que vimos em 2013 foi uma população revoltada com a economia e que queria soluções rápidas para seus problemas. O download do arquivo “direito de consumir” havia sido baixado pelas classes B e C. Aproveitando isso, diversas forças utilizaram o ranger de dentes popular por reformas, para criar uma pantomima ultraliberal e conservadora, jogando a população contra o governo de forma radical e sem debate. Se o pacote “direito de consumir” estava falhando, criaram o pacote “direito de protestar”.


4.      A que conclusão se chega?

De fato, aquele que ignora a força da Internet na sociedade moderna terá grandes dificuldades para entender o que está acontecendo a nossa volta. Tudo pode parecer lógico num primeiro momento, pois criou-se um pacote para ser baixado com uma lógica pré-definida. Mas onde está o debate? Onde está o dialogo social, tão necessário para mudar no longo prazo uma nação? O brasileiro sempre soube, em seu íntimo, que os governantes tinham seus “esquemas”. E debater isso é parte da reforma que a sociedade brasileira precisa. Porém, o que tem ocorrido no país é uma grande hipocrisia seletiva e coletiva, onde a corrupção de um é “menos ruim” do que a corrupção de outro. Onde se compete para ver quem é mais “moralmente elevado”. Onde se conspira abertamente pelo poder e todos fecham os olhos. Onde a informação é manipulada, mas finge-se que é legítima. Onde o meu time precisa vencer o seu time.

Na falta de conhecimento e profundidade, surge o radicalismo. E é exatamente neste ponto que a sociedade brasileira se encontra. A exemplo dos europeus assustados com o mito do projeto de poder islâmico global, ou ainda dos americanos com receio do avanço chinês, ou também como os próprios islâmicos radicais, com medo de perder sua cultura para o avanço globalizante da cultura ocidental, os tempos são de hipertextos.

Se nada for feito, no Brasil e no mundo, para superar este crônico problema, a tendência será o emburrecimento cada vez mais elevado de uma população que não para de crescer. Hoje somos 7 bilhões de seres humanos. Até 2050 seremos mais de 10 bilhões de seres humanos. Mas em que condições de vida? Em que condições de intelecto? Lutando que tipo de guerras? E mais importante: em nome do quê?

Em um mundo tão disperso, tão superficial e radical, apenas uma coisa é certa: esta revolução não será compartilhada.

Obrigado pela leitura,


Sasha Lamounier
Porto, Portugal 

03 de Junho de 2016 



Referências:

[1] State of Connectivity – 2015


[2] O hipertexto como mídia semiótica – Maria Angela Coelho Mirault

http://www.webartigos.com/artigos/o-hipertexto-como-midia-semiotica/15391/


[3] O Papel das Redes Sociais na Primavera Árabe – Acessado em 03 de Junho de 2016.




[5] Propostas Donald Trump – 2016



[6] Vitória de Der Bellen foi graças ao voto por correio – Acessado em 03 de Junho de 2016.