17/03/2016

Fear not, my friends



Fear not, my friends

Por

Sasha Lamounier




Introdução

Por toda a minha vida, optei pela minha liberdade. Isso significa que nunca fui do tipo “vai com as outras”. Sempre temi parecer igual a todo mundo. Confesso isso, sem remorsos. Por isso, desde cedo optei por ser intelectualmente autônomo. Eu penso por mim mesmo e os erros ou acertos advindos de minha reflexão são, apenas, meus. Sou tão e unicamente responsável por tudo o que penso e digo. Pago um preço por isso. Às vezes concordam com o que digo, mas às vezes discordam. E é bom que seja assim. Isso significa que, de fato, sou independente. Se eu quisesse apenas concordância, era só não opinar sobre nada. Quem é que vai discordar do nada?

Acontece que uma coisa é um indivíduo concordar ou discordar de mim. Com ele posso dialogar e tanto ele quanto eu podemos mudar de opinião. Outra coisa é a opinião pública. No livro de Monique Augras, intitulado “Opinião Pública: Teoria e Pesquisa”, ela deixa bem claro que opinião é diferente de atitude. A opinião é um conjunto de valores e ideologias enraizados no indivíduo (algo relacionado a seu histórico de experiências na vida). Já a atitude é aquilo que impele o indivíduo a agir, que o motiva (como uma circunstância, por exemplo). Opinião pública, nesta relação, é o conjunto de valores sociais, históricos e culturais enraizados no conjunto de indivíduos e atuante durante um período de tempo e de incentivos.

Infelizmente, só entendi isso agora. Até então, pensava que automaticamente todos percebiam aquilo que digo como a minha opinião, apenas. Mas depois de um tempo, notei que esperam de mim uma espécie de "voz pública". Se eu dizia algo que a “opinião pública” esperava ouvir, aplaudiam. E se eu traísse essa opinião pública, seria condenado a ser um herege. É claro que as circunstâncias no Brasil (meu país e o grupo majoritário de gentes para quem eu escrevo), maximizou essa noção de “voz pública”. Dentro de um devido contexto, ou eu era bom ou era mau. Ou era sensato, ou insensato.

É evidente que não estou dizendo que todos me “pegaram para Cristo”. Há exceções de pessoas maduras e intelectualmente independentes que perceberam em minhas posições apenas as opiniões de um indivíduo, não de alguém que “escolhia time”. Eu nunca tive time. Para ser sincero, sou do tipo que diz que meu time de futebol é a seleção brasileira (já que não acompanho futebol). Nunca escolhi lados. Na escola e faculdade, quando havia debates na turma, a sorte sempre me colocava do lado menos favorecido do tema. Ou seja, polêmico. Pena de morte? Eu era escolhido para ficar no grupo que iria defender o tema. Dilema da caverna? Eu era escolhido para o grupo que defenderia o direito natural. Quando comecei a entrar nos debates facebookianos, cheguei disposto a questionar toda pré-verdade que encontrasse. E assim o fiz. Passou um tempo, criei um grupo chamado “Liberalismo Clássico”, cujo ideário conheço e sempre defendi. De repente me tornei parte de um “conjunto de forças” da opinião pública brasileira facebookiana.

Um "conjunto de forças" que se levantava contra outro "conjunto de forças". Neste momento percebi que não estava mais fazendo parte de um esforço coletivo por um projeto de país livre, mas sim, de um contexto de guerra contra um inimigo declarado. Como diria Richard IV, em Shakespeare: “Opinião, que me ajudou a alcançar a coroa”. Mas, quem disse que quero uma coroa?

Eu não sou a voz da opinião pública de nenhum lado. Eu não estou em guerra com ninguém (a não ser comigo mesmo e minhas contradições). Eu sou a voz do contraditório. Eu sou o chato que questiona. Se tiver uma massa de gente indo para o mesmo lado, eu sou aquele bicho estranho que implica para mostrar algo diferente. No presente caso da confusa história brasileira, onde tudo está desmoronando, feito castelo de cartas, e onde todos (sejam petistas ou antipetistas) estão se encaminhando para a radicalização e para a “revolução”, eu surjo naturalmente como o chato que implica com os dois e chama pelo diálogo. Se há muita revolta, eu me torno conservador. E se há muito conservadorismo, me torno reformista. Sou agente do diálogo social, não do engessamento.






Petista ou antipetista?

O projeto do Partido dos Trabalhadores é – e sempre foi – o poder. E para manter o poder, qualquer um que leu Maquiavel sabe que “os fins justificam os meios”. Mas qualquer partido ou facção que surja no cenário político tem este objetivo. Política é poder. E este poder pode ser social, cultural, econômico ou estatal. Ou realmente o leitor (a) acha que o objetivo dos libertários (Mises Brasil, Instituto Liberal, Instituto Millenium) é mansinho, sem interesses alheios promíscuos? Ou o objetivo do Olavo de Carvalho é falar tudo o que fala, sem ganhar nenhum poder de influência? Será que a Globo é inocente, mesmo conhecendo todo o seu histórico de apoio a regimes militares? Será que o Juiz Sergio Moro agiu por “amor a pátria”, ou não havia algum interesse maior que ele por trás? “Greed”, ganância. A natureza humana, ainda que considerando raras exceções, é esta.  E é ela que uso como parâmetro para analisar a realidade.

Já diria Milton Friedman. 




Não me surpreende em NADA os escândalos vindos do PT em todos estes anos. Lula sempre foi aquele malandro brasileiro que quer se dar bem. E quando digo que outros também são, é apenas para ratificar que prender o Lula não fará o sistema ficar melhor em NADA. Minha posição quanto a isso é simples: ceticismo! Não me surpreenderia escândalos vindos de outras partes e partidos. Que ele precisa ser punido pelo rigor da lei (caso tenha cometido algum crime), é uma OBVIEDADE. Dilma, Lula, FHC, Aécio, Mercadante, Jaques Wagner etc etc etc, todos eles, se cometerem atos contra o Estado brasileiro e contra a lei, precisam ser julgados e punidos. Mas isso não quer dizer que devemos colocar suas cabeças na ponta de uma lança e expô-las em praça pública. No Brasil, a "presunção da inocência", previsto na Constituição, não existe. Em terras brasileiras, todo mundo é culpado até que se prove o contrário. Mas, se todo político é culpado antes de ser julgado, porque nós não duvidamos dos nossos juristas? Se o brasileiro ganha vantagem em tudo, porque os juristas estariam fora deste grupo? Eu sei, o medo de perder referências é gigantesco... Mas é ai que entra a MINHA perspectiva sobre tudo isso.



O Meu Lado

Não podemos pegar todo mundo, colocar na guilhotina e dizer que mudamos o Brasil. Esse revanchismo “a la revolution française” só irá trazer duas coisas: a perda de todos os direitos de todos os indivíduos e o surgimento de ditadores oficiais (de farda mesmo, daqueles que não saem via “impeachment”). A mudança no nosso país só vai acontecer se mantivermos alguma estabilidade e se mudarmos gradativamente o sistema no longo prazo. Você não irá prender todos os ladrões do país na sua geração. Seus filhos também não. Seus netos também não. Na verdade, nunca conseguiremos moralizar o país “totalmente”. Mas calma, não se desespere. Os EUA não é um país moralizado também. Nem nenhum outro país é o refúgio da “moralidade”. A diferença é que em alguns países há mecanismos que coíbem mais atitudes imorais e em outros, há mecanismos frouxos (como no nosso caso).

Olhe para nosso Estado e reflita. Veja a hierarquia do poder. Você acha mesmo que teremos alguma mudança de sistema neste cenário? A Dilma cai, vem o Temer (que também pode cair, graças ao TSE e a cassação de chapa). Ai ele cai, vem o Eduardo Cunha (nem preciso falar nada). Cai o Cunha, vem o Renan Calheiros (coronel das antigas). Cai o Calheiros, vem o Lewandowski, presidente do STF e novas eleições surgem. Ai, nestas eleições, alguém é eleito e em seu governo, mais revanchismo, mais cabeças caindo e assim por diante. Ou seja, instabilidade e mais instabilidade! Que economia sobrevive a isso? Como aplicar a lei num ambiente de instabilidade? Todos os grupos políticos tentarão se salvar e usarão o Estado para isso. A lei será mais ferida do que já foi! Isso porque você não sabe se o judiciário é “isento”. Se você foi capaz de acusar o judiciário de beneficiar o PT, porque não é capaz de acusar o judiciário agora também? Moralidade seletiva? 

O meu lado é a minha consciência livre (da qual não abro mão) e a República. Chamar-me de “petista” ou “coxinha” não mudará absolutamente NADA na minha vida. Para a minha consciência, para a minha liberdade enquanto indivíduo (preceito máximo do liberalismo clássico) importa apenas o que eu sei. O que você acusa, entra por um ouvido e sair pelo outro. Caminho assim desde que nasci. Não será meia dúzia de fanáticos que me farão mudar.

Defendendo a República, eu defendo a estabilidade. Dura Lex, Sed Lex. Que a lei seja cumprida integralmente para TODOS os envolvidos em qualquer situação. Que o devido processo legal (princípio da inocência, amplo direito de defesa e de contraditório, julgamento imparcial etc), seja plenamente respeitado para todos os cidadãos brasileiros, independente de protesto nas ruas. Aliás, as ruas não devem ser “termômetro” para a lei ser ou não cumprida. Aquilo que se faz usando a razão (leis) não deve ser executada usando a emoção (ruas). Trata-se do vetor básico da segurança jurídica de todos os indivíduos de um Estado Democrático de Direito.

Nas democracias ocidentais (desde John Locke e o Governo Civil), há duas molas que sustentam a liberdade. A justiça (sistema legal) e a segurança (defesa). Para Locke, estas eram as funções fundamentais do Estado, que através do contrato social estabelece as normas de convívio social. Pois bem, o Brasil precisa manter a ordem jurídica urgentemente. Se tivermos uma crise institucional grave, a República corre o sério risco de perder sua primeira perna (a justiça). A segunda perna (defesa) pode aparecer para ajudar ou para atrapalhar. Mas deve ser usado em último caso e somente quando, de fato, perdermos qualquer possibilidade de resolver as questões na seara jurídica. Cuidemos para que nosso país não perca sua democracia! Até porque, as Forças Armadas servem para manter a lei e a ordem. Se um país perde a lei e a ordem, deixando a cargo da força a imposição de ambas, teremos caos, perda de direitos, perda de liberdades e de garantias fundamentais que custariam a sua geração, a de seus filhos e de seus netos.

Portanto, respeitemos o devido processo legal. Sejamos vigilantes com os políticos, mas também com os juízes federais. Sejamos vigilantes diariamente, com os vereadores que serão eleitos neste ano. Com os prefeitos. Acompanhemos os governos municipais de PERTO. Deste modo, o prefeito que amanhã será governador e um dia presidente, viverá numa constante vigilância social. Ai sim o Brasil começará a falar sério. E ai sim estes anos de depressão econômica e moral serão lembrados como o começo de uma grande limpa na sociedade brasileira.

Mas cuidemos para não perder o verdadeiro foco e a esperança! O PT é um capítulo nessa história, e merece ser recepcionado pela lei como qualquer partido. A justiça serve para todos, seja para acusar ou para defender. Depois do PT, ainda temos um país INTEIRO para transformar e vigiar continuadamente, com o mesmo empenho que vigiamos o PT e a atual crise.





Obrigado pela leitura!

Boa Noite e Boa Sorte (Edward R. Murrow)


Sasha Lamounier
Um jovem brasileiro, liberal clássico e pensador livre

Porto, Portugal
18 de Março de 2016



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