Fear not, my friends
Por
Sasha Lamounier
Sasha Lamounier
Introdução
Por toda a minha vida, optei pela minha
liberdade. Isso significa que nunca fui do tipo “vai com as outras”. Sempre
temi parecer igual a todo mundo. Confesso isso, sem remorsos. Por isso, desde
cedo optei por ser intelectualmente autônomo. Eu penso por mim mesmo e os
erros ou acertos advindos de minha reflexão são, apenas, meus. Sou tão e
unicamente responsável por tudo o que penso e digo. Pago um preço por isso. Às
vezes concordam com o que digo, mas às vezes discordam. E é bom que seja assim.
Isso significa que, de fato, sou independente. Se eu quisesse apenas
concordância, era só não opinar sobre nada. Quem é que vai discordar do nada?
Acontece que uma coisa é um indivíduo
concordar ou discordar de mim. Com ele posso dialogar e tanto ele quanto eu podemos
mudar de opinião. Outra coisa é a opinião pública.
No livro de Monique Augras, intitulado “Opinião Pública: Teoria e Pesquisa”,
ela deixa bem claro que opinião é diferente de atitude. A opinião é um conjunto
de valores e ideologias enraizados no indivíduo (algo relacionado a seu
histórico de experiências na vida). Já a atitude é aquilo que impele o
indivíduo a agir, que o motiva (como uma circunstância, por exemplo). Opinião pública, nesta relação, é o conjunto de
valores sociais, históricos e culturais enraizados no conjunto de indivíduos e atuante durante um período de tempo e de incentivos.
Infelizmente, só entendi isso agora. Até
então, pensava que automaticamente todos percebiam aquilo que digo como a minha
opinião, apenas. Mas depois de um tempo, notei que esperam de mim
uma espécie de "voz pública". Se eu dizia algo que a “opinião pública” esperava ouvir,
aplaudiam. E se eu traísse essa opinião pública, seria condenado a ser um
herege. É claro que as circunstâncias no Brasil (meu país e o grupo majoritário
de gentes para quem eu escrevo), maximizou essa noção de “voz pública”. Dentro
de um devido contexto, ou eu era bom ou era mau. Ou era sensato, ou insensato.
É evidente que não estou dizendo que
todos me “pegaram para Cristo”. Há exceções de pessoas maduras e
intelectualmente independentes que perceberam em minhas posições apenas as
opiniões de um indivíduo, não de alguém que “escolhia time”. Eu nunca tive
time. Para ser sincero, sou do tipo que diz que meu time de futebol é a seleção
brasileira (já que não acompanho futebol). Nunca escolhi lados. Na escola e
faculdade, quando havia debates na turma, a sorte sempre me colocava do lado
menos favorecido do tema. Ou seja, polêmico. Pena de morte? Eu era escolhido para ficar
no grupo que iria defender o tema. Dilema da caverna? Eu era escolhido para o
grupo que defenderia o direito natural. Quando comecei a entrar nos debates
facebookianos, cheguei disposto a questionar toda pré-verdade que encontrasse.
E assim o fiz. Passou um tempo, criei um grupo chamado “Liberalismo Clássico”, cujo ideário conheço e sempre defendi. De repente me tornei parte de um “conjunto
de forças” da opinião pública brasileira facebookiana.
Um "conjunto de forças" que se levantava
contra outro "conjunto de forças". Neste momento percebi que não estava mais
fazendo parte de um esforço coletivo por um projeto de país livre, mas sim, de
um contexto de guerra contra um inimigo declarado. Como diria Richard IV, em
Shakespeare: “Opinião, que me ajudou a alcançar a coroa”. Mas, quem disse que
quero uma coroa?
Eu não sou a voz da opinião pública de
nenhum lado. Eu não estou em guerra com ninguém (a não ser comigo mesmo e minhas contradições). Eu sou a voz do contraditório. Eu sou o chato que questiona. Se
tiver uma massa de gente indo para o mesmo lado, eu sou aquele bicho estranho
que implica para mostrar algo diferente. No presente caso da confusa história
brasileira, onde tudo está desmoronando, feito castelo de cartas, e onde todos
(sejam petistas ou antipetistas) estão se encaminhando para a radicalização e
para a “revolução”, eu surjo naturalmente como o chato que implica com os dois e chama pelo diálogo. Se há muita revolta, eu me torno conservador. E se há muito conservadorismo, me torno reformista. Sou agente do diálogo social, não do engessamento.
Petista
ou antipetista?
O projeto do Partido dos Trabalhadores é
– e sempre foi – o poder. E para manter o poder, qualquer um que leu Maquiavel
sabe que “os fins justificam os meios”. Mas qualquer partido ou facção que
surja no cenário político tem este objetivo. Política é poder. E este poder
pode ser social, cultural, econômico ou estatal. Ou realmente o leitor (a) acha
que o objetivo dos libertários (Mises Brasil, Instituto Liberal, Instituto Millenium) é mansinho, sem interesses alheios promíscuos? Ou
o objetivo do Olavo de Carvalho é falar tudo o que fala, sem ganhar nenhum
poder de influência? Será que a Globo é inocente, mesmo conhecendo todo o seu
histórico de apoio a regimes militares? Será que o Juiz Sergio Moro agiu por “amor
a pátria”, ou não havia algum interesse maior que ele por trás? “Greed”, ganância. A natureza humana,
ainda que considerando raras exceções, é esta. E é ela que uso como parâmetro para analisar a realidade.
Já
diria Milton Friedman.
Não me surpreende em NADA os escândalos
vindos do PT em todos estes anos. Lula sempre foi aquele malandro brasileiro que quer se dar bem. E quando digo que outros também são, é apenas para ratificar que prender o Lula não fará o sistema ficar melhor em NADA. Minha posição quanto a isso é simples:
ceticismo! Não me surpreenderia escândalos vindos de outras partes e partidos. Que ele precisa
ser punido pelo rigor da lei (caso tenha cometido algum crime), é uma OBVIEDADE. Dilma, Lula, FHC,
Aécio, Mercadante, Jaques Wagner etc etc etc, todos eles, se cometerem atos
contra o Estado brasileiro e contra a lei, precisam ser julgados e punidos. Mas
isso não quer dizer que devemos colocar suas cabeças na ponta de uma lança e
expô-las em praça pública. No Brasil, a "presunção da inocência", previsto na Constituição, não existe. Em terras brasileiras, todo mundo é culpado até que se prove o contrário. Mas, se todo político é culpado antes de ser
julgado, porque nós não duvidamos dos nossos juristas? Se o brasileiro ganha
vantagem em tudo, porque os juristas estariam fora deste grupo? Eu sei, o medo
de perder referências é gigantesco... Mas é ai que entra a MINHA perspectiva
sobre tudo isso.
O Meu
Lado
Não podemos pegar todo mundo, colocar na
guilhotina e dizer que mudamos o Brasil. Esse revanchismo “a la revolution française”
só irá trazer duas coisas: a perda de todos os direitos de todos os indivíduos
e o surgimento de ditadores oficiais (de farda mesmo, daqueles que não saem via
“impeachment”). A mudança no nosso país só vai acontecer se mantivermos alguma
estabilidade e se mudarmos gradativamente o sistema no longo prazo. Você não
irá prender todos os ladrões do país na sua geração. Seus filhos também não.
Seus netos também não. Na verdade, nunca conseguiremos moralizar o país “totalmente”.
Mas calma, não se desespere. Os EUA não é um país moralizado também. Nem nenhum
outro país é o refúgio da “moralidade”. A diferença é que em alguns países há mecanismos que coíbem mais atitudes
imorais e em outros, há mecanismos frouxos (como no nosso caso).
Olhe para nosso Estado e reflita. Veja a
hierarquia do poder. Você acha mesmo que teremos alguma mudança de sistema
neste cenário? A Dilma cai, vem o Temer (que também pode cair, graças ao TSE e
a cassação de chapa). Ai ele cai, vem o Eduardo Cunha (nem preciso falar nada).
Cai o Cunha, vem o Renan Calheiros (coronel das antigas). Cai o Calheiros, vem
o Lewandowski, presidente do STF e novas eleições surgem. Ai, nestas eleições, alguém
é eleito e em seu governo, mais revanchismo, mais cabeças caindo e assim por
diante. Ou seja, instabilidade e mais instabilidade! Que economia sobrevive a
isso? Como aplicar a lei num ambiente de instabilidade? Todos os grupos
políticos tentarão se salvar e usarão o Estado para isso. A lei será mais
ferida do que já foi! Isso porque você não sabe se o judiciário é “isento”. Se
você foi capaz de acusar o judiciário de beneficiar o PT, porque não é capaz de
acusar o judiciário agora também? Moralidade seletiva?
O meu lado é a minha consciência livre
(da qual não abro mão) e a República. Chamar-me de “petista” ou “coxinha” não
mudará absolutamente NADA na minha vida. Para a minha consciência, para a
minha liberdade enquanto indivíduo (preceito máximo do liberalismo clássico)
importa apenas o que eu sei. O que você acusa, entra por um ouvido e sair pelo
outro. Caminho assim desde que nasci. Não será meia dúzia de fanáticos que me
farão mudar.
Defendendo a República, eu defendo a
estabilidade. Dura Lex, Sed Lex. Que a lei seja cumprida integralmente para
TODOS os envolvidos em qualquer situação. Que o devido processo legal
(princípio da inocência, amplo direito de defesa e de contraditório, julgamento
imparcial etc), seja plenamente respeitado para todos os cidadãos brasileiros,
independente de protesto nas ruas. Aliás, as ruas não devem ser “termômetro”
para a lei ser ou não cumprida. Aquilo que se faz usando a razão (leis) não
deve ser executada usando a emoção (ruas). Trata-se do vetor básico da segurança
jurídica de todos os indivíduos de um Estado Democrático de Direito.
Nas democracias ocidentais (desde John
Locke e o Governo Civil), há duas molas que sustentam a liberdade. A justiça (sistema legal) e
a segurança (defesa). Para Locke, estas eram as funções fundamentais do Estado,
que através do contrato social estabelece as normas de convívio social. Pois
bem, o Brasil precisa manter a ordem jurídica urgentemente. Se tivermos uma
crise institucional grave, a República corre o sério risco de perder sua
primeira perna (a justiça). A segunda perna (defesa) pode aparecer para ajudar
ou para atrapalhar. Mas deve ser usado em último caso e somente quando, de
fato, perdermos qualquer possibilidade de resolver as questões na seara
jurídica. Cuidemos para que nosso país não perca sua democracia! Até porque, as
Forças Armadas servem para manter a lei e a ordem. Se um país perde a lei e a
ordem, deixando a cargo da força a imposição de ambas, teremos caos, perda de
direitos, perda de liberdades e de garantias fundamentais que custariam a sua
geração, a de seus filhos e de seus netos.
Portanto, respeitemos o devido processo
legal. Sejamos vigilantes com os políticos, mas também com os juízes federais.
Sejamos vigilantes diariamente, com os vereadores que serão eleitos neste ano.
Com os prefeitos. Acompanhemos os governos municipais de PERTO. Deste modo, o
prefeito que amanhã será governador e um dia presidente, viverá numa constante
vigilância social. Ai sim o Brasil começará a falar sério. E ai sim estes anos
de depressão econômica e moral serão lembrados como o começo de uma grande
limpa na sociedade brasileira.
Mas cuidemos para não perder o
verdadeiro foco e a esperança! O PT é um capítulo nessa história, e merece ser
recepcionado pela lei como qualquer partido. A justiça serve para todos, seja
para acusar ou para defender. Depois do PT, ainda temos um país INTEIRO para
transformar e vigiar continuadamente, com o mesmo empenho que vigiamos o PT e a
atual crise.
Obrigado pela leitura!
Boa Noite e Boa Sorte (Edward R. Murrow)
Sasha Lamounier
Um jovem brasileiro, liberal clássico e pensador livre
Porto, Portugal
18 de Março de 2016
Boa Noite e Boa Sorte (Edward R. Murrow)
Sasha Lamounier
Um jovem brasileiro, liberal clássico e pensador livre
Porto, Portugal
18 de Março de 2016
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