- Exodus -
Além das Escrituras
Por
Sasha Lamounier
Sou daqueles que acredita que conhecer
um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Se ninguém se predispõe a falar
o que observa claramente, então alguma coisa está errada. Talvez muita gente
queira que o problema aconteça. Como eu não quero que aconteça, creio que é
minha obrigação moral expor o que está acontecendo. E mais, dizer o que penso
que poderá acontecer caso tudo se concretize. Rogo, contudo, que o leitor apele
para o bom senso e julgue os fatos de acordo com a mais honesta racionalidade.
Este texto é tão e unicamente uma
leitura, uma interpretação pessoal dos eventos que tem ocorrido no Brasil. Em
um jogo de pôquer, especialmente na versão Texas Holdem, os jogadores tem
acesso a cinco cartas comunitárias na mesa e duas cartas privativas para cada
um. Durante o jogo, cada jogador pensa em estratégias tendo por base suas
cartas e as cartas da mesa, assim como, probabilidades de quais jogos seus
adversários podem formar. É com estas estatísticas mentais que o jogador de
pôquer irá medir suas chances de vencer ou não aquela determinada mão. Trazendo
para a política este método de “jogo”, farei uma análise tendo como base aquilo
que conheço das cartas políticas. Minha mão é o que está aqui neste texto.
Por isso mesmo, antes de você começar a
leitura, faço dois singelos pedidos. Primeiro não acredite em nada do que digo.
Sério mesmo. Não acredite. Se algo aqui lhe interessar, busque por si mesmo a
comprovação do fato. Segundo, não duvide de nada do que digo. Por mais absurdo
que pareça, por favor, investigue e pesquise para comprovar ou desmentir o que
foi dito.
Feito os pedidos, lhe alerto por fim
para a simplicidade deste texto. Sim, ele é bem simples. Não tem palavras rebuscadas,
nem links ou livros. É apenas um texto pequeno. Apesar de parecer simples,
contudo, há de se considerar que a simplicidade é complexa. Para chegar às
conclusões lógicas, precisei de pelo menos dois anos de intensa investigação
prática da política brasileira e das ideologias que a permeiam. Li muita coisa,
muitos documentos e estudei de tudo. Portanto o que lhe parece simples é apenas
fruto de uma extensa complexidade. Muita coisa vai parecer obviedade para você.
Algumas coisas talvez não. De todo modo, para dizer obviedade às vezes é
necessário um grande esforço. Negamos o que está na nossa frente! Por isso,
este texto aqui é sim muito óbvio. Previsível. Só que é preciso alguma sanidade
para enxergar o previsível.
O Brasil passa por uma situação política
e econômica jamais antes vista. Não é novidade para ninguém. A situação, porém, não é
conturbada como outras crises políticas que já passamos. Trata-se de uma crise
de identidade. Crise esta também perceptível em outras partes do mundo, mas que
no Brasil apresenta-se com inigualável clareza. Esse problema, esse sentimento
negativo de que tudo está errado e irá dar errado, cria uma depressão coletiva.
E esta depressão alimenta a própria crise.
Respeitando-se as diferenças
ideológicas, podemos resumir a política brasileira atual em dois grandes blocos
programáticos. Os pró-PT (esquerda de forma geral) e os anti-PT (direita de
forma geral). O povo brasileiro apolítico, ou que não está integrada a alguma
ideologia, fica no meio, às vezes pendendo para um lado e às vezes para outro,
dependendo do humor. Mas a rigor, são estes dois grandes grupos programáticos
que existem no Brasil moderno. E digo programáticos, porque ambos os grupos tem
programas de Brasil e de futuro bastante distintos.
O PT todos (supostamente) conhecem.
Existe há 35 anos, subiu ao poder com Lula em 2002, mantêm-se no poder desde
então, protagonizou o Mensalão, trouxe a Copa das Confederações e do Mundo, se
fundamenta numa política desenvolvimentista e assistencialista, busca
integração com outras nações de esquerda da América Latina, tem no Lula seu
maior aporte etc.
Os anti-PT são aqueles que condenam
aquilo que o povo (supostamente) NÃO conhece do PT. Ou seja, o projeto bolivariano (Foro de
São Paulo) que a maior parte da população brasileira ignora: a ideia de
progressivamente transformar o país numa Cuba (gramscismo-comunismo), o
processo de sucateamento e aparelhamento das instituições democráticas para
tornar o PT um partido único e totalitário, fim das liberdades individuais, fim
da propriedade privada dos meios de produção e assim por diante.
Não importa quando esta oposição ao PT
surgiu efetivamente, mas garanto que ela sempre existiu, apesar de (na maior
parte do tempo) quase nula. Ela ganhou força mais precisamente em 2013, com o
descontentamento popular geral e desde então tem se organizado na tentativa de
barrar o PT e o projeto do Foro de São Paulo.
Então, temos aqui dois grupos
majoritários (apesar de bastante heterogêneos).
A questão é que o discurso está
radicalizado. E a tendência é se radicalizar cada vez mais. Após décadas de
desinformação, o brasileiro não sabe mais o que defender e não sabe o que cada
grupo defende. Se você é novato na política e está lendo este texto,
provavelmente pensará que se trata de um texto anti-PT ou pró-PT, a depender de
sua tendência. Só que o texto é neutro! Se você não o julga neutro, isso já
mostra como você está doutrinado (por qualquer lado que seja) e não sabia.
Percebe? Não há meio termo. Um grupo
quer que o PT fique no poder. O outro grupo quer a todo custo tirar o PT do
poder. Não há aqui um “caminho do meio”. Desta perspectiva, não há qualquer
possibilidade de diálogo ou reconciliação nacional. A eleição de Dilma Rousseff
em 2014 foi à gota d’água para que o anti-petismo ganhasse estruturas mais
radicais. Juntando a crise econômica, juntando o medo natural que a população
brasileira tem da violência e também dos erros já tradicionais da sociedade
brasileira, o que sobra é caos. Histeria coletiva. Bem ou mal embasada.
Neste ano de 2015, já tivemos duas
manifestações grandes pedindo a saída de Dilma Rousseff do poder (15 de Março e
12 de Abril). Não entro aqui no mérito se é bom ou ruim. Mas isso, aliado a
instabilidade política causada pela crise na Petrobrás e na operação Lava Jato,
forja um cenário caótico. E caótico, pois além da crise política, há ainda uma
crise econômica crescente desde 2013 e que agora começa a chegar a seu momento
mais crítico. Todo país precisa de estabilidade política para driblar crises
econômicas, afinal o Congresso precisa trabalhar junto do poder executivo para
aprovar medidas tributárias, econômicas que irão ajudar a tirar o país de um
estágio problemático. Contudo, esta parceria não existe no Brasil. E uma crise
política junto de uma crise econômica significa um movimento cíclico: um
alimenta o outro. Enquanto não houver estabilidade política, a economia não irá
melhorar. E enquanto a economia não melhora, a insatisfação social aumentará. E
isso intensificará a oposição anti-PT.
E como o PT não pretende perder o poder
(já deu muitas provas disso), em resposta à intensificação da oposição eles
também irão intensificar ações e discurso. Em primeiro lugar, há de considerar
que o PT irá a todo custo manter Dilma na presidência e defender o mandato do
partido, para em 2018 eleger um sucessor. Só que se a tensão social aumentar
devido à instabilidade política e a crise econômica, muito provavelmente ainda
durante o segundo mandato da Presidente Dilma o Brasil sofrerá diversas
complicações que podem num determinado ponto máximo, chegar às vias de fato de
uma guerra civil. Ou seja, o que é caótico pode tornar-se apocalíptico.
Uma guerra não acontece por acaso.
Primeiro, há uma tensão de discursos. O que cada lado quer. Política é o meio
pelo qual se concilia os discursos. Sim, política é a arte da conciliação.
Quando falta diálogo, sobra briga. É a coisa mais óbvia do planeta. Mas é
exatamente isso que está acontecendo no Brasil. Se nenhum lado ceder (o que é
praticamente impossível) haverá sangue.
Existe toda uma composição de forças
ligadas ao PT e aos anti-PT. No centro desse embate, está as Forças Armadas,
que ninguém sabe que postura teria numa eventual violência social. Mais ainda,
uma crise como esta simplesmente levaria a falência à economia brasileira, pois
investidores sairiam correndo do país para não perder dinheiro. Sem
investimento, o Estado será obrigado a investir ele próprio. Só que isso não
será possível, pois o país estará falido, o povo brasileiro estará cada vez com
menos renda. Em resumo, a crise social seria de uma extensão jamais antes vista
na história! Ou seja: desemprego, falta de produtos no mercado, forças
antagônicas que brigam pelo poder, projetos internacionais que dependem deste
poder e assim por diante.
Como evitar tudo isso? Não tenho ideia. Talvez
este texto jogue um pouco de racionalidade em quem lê-lo. O que sei é que algum
lado terá de ceder. E como não vejo muita chance disso acontecer, infelizmente
ponho minhas fichas no pior. De todo modo, ainda mantenho esperança. Não sei o
que irá acontecer no nosso país, mas tenho esperança.
Muita gente tentará (e irá) sair do
país. Mas e quem ficar? Aqueles que ficarem e sobreviverem a tudo isso serão os
construtores do novo Brasil. E não pense que será algum “herói” letrado que leu
autores da esquerda ou da direita. Serão justamente os mais humildes, os que
menos tem qualquer relação com toda a confusão, aqueles que não têm a mínima ideia do que
está acontecendo. Também serão os que mais irão sofrer. Perderão qualquer
segurança que minimamente tenham. Mas é isso que fará a diferença. Pois o pobre é
mais forte do que o rico. E isso não é discurso político. Basta ver a
realidade. O pobre consegue perder tudo e se reerguer. Já o rico, se ele perde
toda a fortuna dele, as chances de um suicídio são maiores. O pobre aguenta.
Sofre, mas aguenta. Por isso este texto aqui é apenas um alerta. O Brasil tem
jeito, mas não será nada do que defendem. Pois tudo o que defendem está fadado
ao fracasso colossal. A solução estará na humanidade daqueles que ousam viver
em um país tão duro (e tão bonito) como o Brasil.
Eu sinceramente renuncio a ambos os lados. Não sou
anti-PT e nem pró-PT. Sou a favor da vida. E você?
Obrigado pela leitura,
Sasha Lamounier
Um brasileiro
Obrigado pela leitura,
Sasha Lamounier
Um brasileiro
05 de Maio de 2015
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